Este é um dos resultados preliminares de um inquérito realizado na Faculdade de Medicina da Universidade o Porto (FMUP) e no CINTESIS – Centro de Investigação em Tecnologias e Serviços de Saúde, divulgado hoje, mas que será estendido a todas as Escolas Médicas nacionais, durante os próximos dias.
O trabalho indica que 93% dos inquiridos concordam que a idade não pode ser considerada como o único elemento de decisão.
Coordenado por Rui Nunes (professor da FMUP e especialista em Bioética) e Altamiro Costa-Pereira (diretor da FMUP), o estudo foi realizado em tempo recorde.
O objetivo é dar resposta a uma série de perguntas que já foram colocadas noutros países, como Espanha e Itália, face à desproporção de doentes graves e muito graves com covid-19 a necessitarem de cuidados intensivos face aos meios disponíveis para os tratar, refere a FMUP, em comunicado.
Dos mais de 350 profissionais e investigadores de saúde que responderam ao inquérito ‘online’, 91% consideram que, para além dos critérios clínicos, devem existir “critérios éticos universais, explícitos, transparentes e consensualizados para admissão em cuidados intensivos”.
Apenas 6% não veem necessidade da sua existência e 3% não têm opinião sobre o tema.
Quase 90% dos inquiridos concorda também que a decisão deve ser partilhada entre a equipa de saúde, o doente e a família, no sentido de promover “uma comunicação franca e transparente”. Apenas 8% dizem que não e 3% não têm uma opinião formada.
Quanto aos critérios que deverão presidir à decisão de internar um determinado doente com covid-19 em detrimento de outro, a grande maioria entende que a idade não deve ser decisiva.
Feitas as contas, 93% dos profissionais concordam que a idade não pode ser considerada como o único elemento de decisão. Apenas 4% dos inquiridos acha que a idade serve para decidir quais os doentes prioritários, sendo que 3% confessam não ter opinião.
Cerca de 80% dos profissionais inquiridos entendem que, face à impossibilidade de admitir em simultâneo todos os doentes com a covid-19, “deve valorizar-se a maximização da sobrevivência até à alta hospitalar”.
Ou seja, a maioria dos profissionais admite que, se for necessário escolher, deve ser dada prioridade a doentes com mais hipóteses de sobreviverem. Apenas 7% discordam e 13% não têm opinião.
O consenso não é tão grande no que respeita a outro critério possível na priorização de doentes a admitir em cuidados intensivos: o número de anos salvados.
Cerca de 66% dos profissionais entendem que se deve valorizar “a maximização do número de anos de vida salvados”, enquanto 18% dizem que não e 16% admitem não ter opinião.
As opiniões dividem-se ainda mais no que se refere à aplicação do chamado “princípio do custo de oportunidade”, evitando como regra absoluta o critério “primeiro a chegar primeiro a admitir”.
Ao todo, 56% dos inquiridos respondem que sim, que se deve ter em conta o “custo de oportunidade”, o que implica que nem sempre a admissão deve ser feita por ordem de chegada. Porém, 27% discordam e 17% não têm opinião.
Neste inquérito, realizado entre os dias 06 e 11 de abril, 51% dos inquiridos são médicos, sendo que 73% têm menos de 50 anos de idade.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou mais de 117 mil mortos e infetou quase 1,9 milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Em Portugal, segundo o balanço feito segunda-feira pela Direção-Geral da Saúde, registam-se 535 mortos, mais 31 do que no domingo, e 16.934 casos de infeção confirmados, o que representa um aumento de 349.
Dos infetados, 1.187 estão internados, 188 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 277 doentes que já recuperaram.
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