Desde as primeiras horas da manhã que os peregrinos, muitos dos quais jovens, percorreram de joelhos o empedrado do Campo de São Francisco, na ilha de São Miguel, apesar do tempo instável.
Hélia Mendonça saiu bem cedo da vila do Nordeste, na ilha de São Miguel, para cumprir a sua promessa de joelhos, como é habitual “há 21 anos”.
“Saí do serviço as sete da manhã e vim diretamente para o Campo de São Francisco”, contou à agência Lusa a peregrina, após cumprir a promessa de joelhos em redor do Campo.
Visivelmente emocionada Hélia Mendonça relatou que foi cumprir “uma promessa por uma graça concedida em relação a um problema pessoal” na sua vida e disse que o percurso de joelhos é realizado com “um sacrifício muito grande”. Mas “a fé dá força" para enfrentar o caminho, relatou ainda à Lusa.
“Sinto-me leve. Não tenho nenhuma dor”, vincou, partilhando com Ana Barbosa, a mãe de 77 anos, as dificuldades do percurso (dar a volta à praça) de joelhos.
Ana Barbosa garantiu que dá a volta ao Campo “entre 25 a 30 minutos” e já o faz “há 20 e tal anos”. “Essa dor passa”, disse a residente no Nordeste, confessando que durante a madrugada o percurso "faz-se melhor, por haver menos pessoas" na praça.
No Campo de São Francisco, palco dos festejos religiosos, os fiéis rezam, tanto na rua como no interior do Santuário da Esperança.
Outros fazem o trajeto em redor do Campo carregando molhos de círios (velas). Foi o caso de Renato Cabral, 33 anos, residente em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel.
"De joelhos é muito mais doloroso e difícil", confidenciou à reportagem da agência Lusa, após depositar o seu círio à porta do Santuário.
Pelo posto de atendimento muitos foram os peregrinos que iam recebendo assistência para o tratamento e limpeza das feridas nos joelhos e nos pés.
Entre esses peregrinos está Maria da Luz, 21 anos, moradora em Rabo de Peixe, na ilha de São Miguel. "Faço a promessa de joelhos há cinco anos, mas este ano custou-me muito", confessou, dizendo que realiza o percurso acompanhada pelo noivo, que lhe presta apoio em "momentos mais difíceis".
Raquel Coelho é diretora da instituição das Irmãs Hospitaleiras de Ponta Delgada, que desenvolve o projeto "A Fé que nos Move",, em parceria com o Santuário, e que envolve 25 colaboradores voluntários, para prestação de cuidados de enfermagem aos peregrinos.
A responsável admitiu que "há cada vez mais jovens" que cumprem as promessas à volta do Campo. "Já se tem vindo a verificar, desde há alguns anos, cada vez mais jovens. Este ano verificamos também muitas pessoas do sexo masculino", explicou a responsável.
Além de cuidados de enfermagem, o projeto que as Irmãs Hospitaleiras, da Casa de Saúde de Nossa Senhora da Conceição desenvolve, presta também "cuidados espirituais", sublinhou Raquel Coelho.
"É um projeto que todos os anos cada vez mais nos comove. É muita emoção saber a dor que as pessoas passam e as promessas que fazem para cumprir o trajeto, em prece por momentos difíceis das suas vidas", contou a responsável à Lusa, revelando que o posto de atendimento aos peregrinos está aberto desde as 04:30 locais (05:30 em Lisboa) e pelo local já foram atendidos centenas de peregrinos.
Hoje realiza-se também o cortejo da mudança da imagem do Santo Cristo em redor do Campo de São Francisco e, no domingo a procissão, que percorrerá, durante horas, alguns quilómetros das ruas da cidade de Ponta Delgada, o ponto alto dos festejos.
As festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres, também consideradas a segunda maior manifestação religiosa do país depois das peregrinações a Fátima, decorrem até quinta-feira (9 de maio) na cidade de Ponta Delgada.
*Por Ana Cristina Pereira, da agência Lusa
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