Lisboa recebe, pela primeira vez, o Congresso Internacional da Deficiência Visual, simultaneamente com o congresso da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), que vai decorrer entre quinta-feira e sábado, e onde vão ser discutidos temas como a educação, saúde, emprego, proteção social ou a vida independente.
Em entrevista à agência Lusa, o presidente da ACAPO defendeu que seria muito importante conseguir sensibilizar a sociedade para as dificuldades por que passam as pessoas cegas, apontando que a maior barreira está nas mentalidades das pessoas.
“O preconceito é muito fácil de criar, mas muito difícil de abolir”, salientou Tomé Coelho, garantindo que um dos objetivos da associação é “lutar pela dignificação das pessoas com deficiência visual”, defendendo os seus direitos, mas também os seus deveres.
Tomé Coelho frisou que, apesar de alguma evolução, continuam a ser discriminados, seja no acesso à educação, ao emprego ou na participação cívica e política e aproveitou para deixar uma pergunta.
“Quantas pessoas com deficiência visual existem nos executivos da junta, na vereação camarária, para não falar já na Assembleia da República? Quantos candidatos é que nós conseguimos encontrar?”, questionou.
O presidente da ACAPO lembrou que foram precisos 40 anos até a Assembleia da República ter um deputado com uma deficiência motora ou o Governo ter uma secretária de Estado cega e avisou que se nada mudar, poderão ser precisos mais 40 anos até haver mais duas pessoas com deficiência em cargos de relevo.
Sobre a importância de uma secretária de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência, o presidente da ACAPO salientou e elogiou a criação de medidas como a Prestação Social para a Inclusão, o modelo de apoio à vida independente (MAVI), a lei das quotas para a contratação de pessoas com deficiência nos setores público e privado ou o voto acessível, já a partir das próximas eleições europeias.
Tomé Coelho adiantou que a ACAPO pediu reuniões com todos os partidos com assento parlamentar, mas, até agora, só se reuniu com o CDS-PP e o Partido Ecologista Os Verdes, para sensibilizar para a necessidade de garantir que todas as pessoas com deficiência tenham acesso ao voto e alertar para o facto de as pessoas com deficiência visual não terem a possibilidade de exercer o seu direito com autonomia.
A ACAPO procurou também mostrar aos partidos que as campanhas eleitorais não são acessíveis às pessoas cegas e aproveitou, disse Tomé Coelho, para perguntar se algum dos partidos iria incluir pessoas com deficiência na lista de candidatos, pergunta que ficou sem uma resposta conclusiva.
Ainda em matéria de discriminação, Tomé Coelho defendeu que há cada vez mais pessoas com deficiência visual que têm uma licenciatura, um mestrado ou um doutoramento, em áreas como o direito, a história ou a filosofia, "mas acabam por ser pessoas que estão sempre em cargos subalternos. Não será preconceito?”.
“Será que todas as pessoas que desempenham cargos públicos de mais alto nível são todas ou têm todas competências superiores às das pessoas com deficiência?”, questionou.
O presidente da ACAPO salientou que durante os próximos três dias estes e outros temas vão estar em debate, pela primeira vez com uma abordagem internacional, através da participação de diversas organizações internacionais de defesa dos direitos das pessoas com deficiência visual.
O congresso conta com o alto patrocínio do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que irá participar na sessão solene.
Tomé Coelho apontou que o congresso da ACAPO irá servir para fazer um balanço do trabalho feito pela associação desde a realização do último congresso, em 1995.
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