Lançada pela Galeria Cristina Guerra Contemporary Art, a petição - que fala em "ofensa grave ao espaço que é de todos" - reunia ao fim da manhã de hoje 114 assinaturas, entre outras, de artistas como Daniel Blaufuks, Horácio Frutuoso, Ângela Ferreira, Manuel Tainha e Pedro Portugal.
A iniciativa surge na sequência da colocação, no início do ano, de obras de arte pública na Praça do Município, no centro da capital, e no Passeio Carlos do Carmo, em Belém, Lisboa.
Em janeiro deste ano, a escultura intitulada “Pareidolie”, do artista plástico francês de ascendência portuguesa Alexandre Hopare Monteiro, foi doada a Lisboa, e instalada na Praça do Município.
Quanto ao conjunto escultórico “Heróis da pandemia”, criado por Rogério Abreu, foi inaugurado em fevereiro, no Passeio Carlos do Carmo, em Belém, numa homenagem ao trabalho dos médicos que estiveram na linha da frente na pandemia covid-19.
“A recente colocação de esculturas no espaço público de Lisboa, quer na Praça do Município, quer em Belém, representa uma ofensa grave ao espaço que é de todos, ignorância e insensibilidade, provincianismo e incompetência”, sustenta o texto da petição pública.
Refere ainda que, “eventualmente por mera coincidência, os três bustos, da autoria de dois autores diferentes, têm em comum a mesma literalidade, incompetência plástica e escultórica e a capacidade comum de afetarem negativamente o espaço público de enorme qualidade urbana, arquitetónica e paisagística onde se encontram instaladas”.
“No caso das esculturas de homenagem aos médicos colocada em Belém, a situação é sobretudo caricata, na medida em que a bondade do propósito é denegrida pela mediocridade das esculturas”, acrescenta o texto, cuja primeira signatária é a galerista Cristina Guerra, tendo sido também assinado por, entre outros artistas, Ana Vidigal, Rui Toscano, José António Quintanilha e Pedro Calhau.
Em janeiro, na cerimónia de inauguração da obra de Hopare Monteiro e do contrato de doação, o presidente da autarquia, Carlos Moedas, disse que a obra significava “a dignidade dos portugueses”.
As duas peças escultóricas do Passeio Carlos do Carmo, por seu turno, também foram alvo de uma inauguração em fevereiro, com a presença de Carlos Moedas e pelo bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, numa iniciativa realizada em parceria.
Na opinião dos proponentes da petição, “a colocação de obras de arte no espaço público deve ser objeto de uma aturada reflexão: a partir do momento em que são colocadas ficam alcandoradas à dimensão de monumentos, com toda a responsabilidade que a essa condição advém, nomeadamente a sua vocação de perenidade e de referência futura”.
“A arte no espaço público não carece da nossa vontade de a fruir, ao contrário do que acontece num museu ou numa galeria. Aí, a escolha da visita é do espetador. No espaço público, somos confrontados com o que não escolhemos ver, o que implica uma acrescida responsabilidade de quem encomenda e decide”, sustentam.
Nestes casos, dizem estar perante uma “falta de qualidade das obras que as remete para o puro nível da poluição visual, não possuindo qualquer qualidade estética que mereça a sua permanência”.
“A responsabilidade recai, portanto, sobre quem decidiu da sua colocação, sobre o processo leviano da escolha dos projetos, sobre a arrogância de pretender deixar tal legado à cidade. Mais, sujeitam os autores das obras a um escrutínio público extremamente negativo, que a sua dimensão não merece”, argumenta ainda o texto que explica a iniciativa.
Além da retirada das obras, a petição defende que seja instituída uma “obrigatoriedade de sujeição de todos os projetos de arte no espaço urbano a avaliação prévia por parte de uma comissão”.
A comissão deve incluir, no seu entender, “não apenas os técnicos indispensáveis para avaliar a exequibilidade material e financeira de cada projeto submetido, mas também especialistas de reconhecida qualidade para a aferição do valor estético de cada proposta”.
A agência Lusa pediu uma reação à CML sobre a petição, e aguarda uma resposta a esta iniciativa.
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