“Manuel Amado – Pintura sem Álibi” dará título a esta mostra com curadoria de Mariana Pinto dos Santos, e um total de 37 obras, algumas delas inéditas, provenientes de coleções particulares, a maioria pertencente à coleção da Fundação Millennium BCP.
Arquiteto de formação, Manuel Amado (1938-2019) manteve sempre atividade de pintor em paralelo, e acabou por se dedicar inteiramente à pintura a partir da segunda metade da década de 1980.
Nas suas obras, onde é muito rara a presença humana, recriou espaços de interiores geométricos e de exteriores naturais, com paisagens verdejantes e praias.
Fonte próxima da família disse hoje à agência Lusa que esta exposição já estava programada há cerca de dois anos.
Manuel Amado viria a morrer em outubro do ano passado, e a mostra surge agora como um tributo da Fundação Millennium BCP, em parceria com o Museu Vieira da Silva.
Ao longo dos anos, a fundação reuniu obras do pintor que cobrem a grande maioria dos seus temas de pintura, estando particularmente representada a série “Comboios, Estações e Apeadeiros” (1986), e é esse o núcleo central da exposição, que inclui também algumas obras de coleções particulares.
Entre as obras selecionadas, encontram-se ainda trabalhos das séries “Casa sobre o Mar” (1992), a “Grande Cheia” (1996), “Lisboa” (iniciada em 1983), “Encenações” (iniciada em 2007) ou “O espectáculo vai começar…” (2004-2007).
Estarão ainda expostas obras de temas que revisitou várias vezes como a “Estrada da Comenda, a Praia, as Casas e os seus Cantos”, ou as naturezas-mortas a que chamou “Grupos” ou ” Pequenos Encontros”.
“Pintura sem Álibi”, que dá título à mostra, é uma expressão do crítico e editor Vitor Silva Tavares no texto que dedicou ao pintor, em 1984, no qual destacava “o laborioso ofício” e a “qualidade despojada, silenciosa” das suas pinturas, que lhe motivaram um “fascínio desconcertante”.
Autor de “Quarto Interior”, que faz parte da Coleção Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, e do tríptico da Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, Manuel Amado fez o curso do liceu no Colégio Moderno, período durante o qual se dedicou ao teatro. Iniciou-se na pintura em 1956, e concluiu arquitetura em 1965.
Em 1975, participou pela primeira vez numa exposição coletiva, na Sociedade Nacional de Belas Artes, a que se sucedeu uma outra, na antiga Galeria Ottolini, em Lisboa, organizada por Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas.
Em 1978, a convite de Cruzeiro Seixas, fez a sua primeira exposição individual, a que se seguiu nova mostra em nome próprio, no início da década de 1980, na Galeria São Mamede, em Lisboa, e, depois, na Cooperativa Árvore, no Porto.
Desde então, expôs com regularidade em Portugal e no estrangeiro, destacando-se a presença no Smithsonian, em Washington, na ARCOmadrid, na Galeria Anne Berthoud, em Londres, na Mouvances, em Paris, na China Art Gallery, em Pequim, na Fundação Telefónica, em Madrid, que acolheu a sua primeira retrospetiva, em 1994, e na Fundação Calouste Gulbenkian, na capital francesa, onde levou “A Grande Cheia”, em 2001.
Executou diversos cenários em colaboração com diferentes grupos de teatro, entre os quais o Teatro Universitário de Lisboa, o Teatro da Malaposta e o Grupo 4/Teatro Aberto.
Manteve uma regular colaboração com a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre, a partir da década de 1990.
A sua obra está representada em diversas coleções públicas e privadas, como Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação das Descobertas (Centro Cultural de Belém), Fundação Millennium BCP, Fundação Oriente, Fundação EDP, Fundação Portugal Telecom, Fundação Cupertino de Miranda, Casa Museu Fernando Pessoa, Fundação Berardo e, no estrangeiro, na Fundação Jacqueline Vodoz e Bruno Danese (Itália) e na Fundação António Perez Museu de Arte Contemporânea (Espanha).
Em maio de 2016, a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, acolheu a sua exposição “O Verão era assim como uma casa de morar onde todas as coisas estão…”, uma das mais importantes na recente carreira do artista, retrospetiva com curadoria da própria pintora Paula Rego, com a coordenadora da Casa das Histórias, Catarina Alfaro.
A exposição “Manuel Amado – Pintura sem Álibi” é inaugurada na sexta-feira, às 18:00, no museu da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, em Lisboa, estando prevista a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Esta sessão terá um número muito restrito de convidados devido às exigências sanitárias, para conter a pandemia covid-19.
O catálogo da exposição é publicado pela chancela Documenta, com design de Manuel Rosa e organização editorial, escrita de ensaio e supervisão de Mariana Pinto dos Santos, em edição bilingue, português-inglês.
“Manuel Amado – Pintura sem Álibi” abre ao público no sábado, e ficará patente até 20 de setembro.
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