A aquisição de uma Ressurreição de Cristo executada por volta de 1540, na Oficina Real de Lisboa, por um dos museus mais importantes e mais visitados do mundo tinha sido anunciada a 23 de outubro, na rede social X, pelo Louvre, para o seu Departamento de Pintura.
Em declarações hoje à agência Lusa, o galerista indicou que o quadro já se encontra exposto, “apesar de oficialmente a inauguração da exposição pública só tenha início no sábado”, na sala da pintura espanhola do século XVI, “porque ainda não há uma sala portuguesa”, um dos sonhos que o galerista tem afirmado e que gostaria de ver concretizado em breve.
A pintura do século XVI, atribuída a Garcia Fernandes e Cristóvão Figueiredo, é considerada uma obra-prima representativa da chamada Idade de Ouro portuguesa.
“Trata-se de uma grande vitória para a arte portuguesa, uma aquisição aparentemente banal mas com um poder decisivo para que a grande escola portuguesa de pintura do século XVI seja, a partir de agora, mais conhecida, mais valorizada e mais respeitada a nível global”, comentou Philippe Mendes, o galerista luso-francês que vendeu o quadro ao museu, sem indicar o valor.
Mendes tinha oferecido em 2016 um quadro da pintora portuguesa Josefa D’Óbidos (1630—1684) ao Louvre, com o objetivo de incentivar a criação da sala de pintura portuguesa naquele museu parisiense, “ambição que fica agora um pouco mais perto”, comentou.
“De hoje em diante, a escola portuguesa de pintura do século XVI passa a ombrear em pé de igualdade, e respeitando a sua linguagem artística própria, com as grandes escolas de pintura espanhola, italiana ou holandesa”, sublinhou o galerista.
Em outubro, quando do anúncio da aquisição, contactada pela agência Lusa, fonte do gabinete de comunicação e relações externas do Louvre enviou uma resposta por ‘email’ a confirmar que “esta é a primeira pintura [portuguesa] comprada pelo museu, tendo as outras pinturas portuguesas das [suas] coleções sido adquiridas por doação”.
“Até esta compra, o Louvre não possuía qualquer pintura portuguesa do século XVI, apesar de a exposição “O Século de Ouro do Renascimento Português”, apresentada no ano passado, no Louvre, “ter servido para recordar a importância de Lisboa como capital artística durante o Renascimento e a qualidade do trabalho das oficinas reais”, acrescentava a assessoria de comunicação do museu.
A pintura “Ressurreição de Cristo”, executada cerca de 1540 no Atelier Real de Lisboa, é “um exemplar de primeira ordem da arte renascentista portuguesa”, disse o Louvre sobre o quadro, que representa Cristo envolto num manto vermelho, após ressuscitar perante a surpresa dos soldados que guardam a sepultura.
Sobre a aquisição, o galerista Philippe Mendes admitiu que “foram necessários mais de seis meses de trabalho árduo para conseguir que o museu comprasse este quadro”, com “muitas dificuldades a ultrapassar”, depois de o ter apresentado em março na feira de arte e antiguidades Tefaf, em Maastricht, nos Países Baixos, “onde o Louvre a viu e reservou”.
“Tivemos de descobrir a origem do quadro, saber onde esteve durante a II Guerra Mundial, obter os documentos necessários para sair do país e, como tudo é complicado em Portugal, foi sempre uma luta”, recordou o galerista.
Em 2022, o Museu do Louvre apresentou uma exposição dedicada à pintura antiga portuguesa, centrada em 15 obras provenientes do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), de Lisboa, sob o título “L’Age D’or de la Renaissance Portugaise” (“A idade de Ouro do Renascimento Português”, em tradução livre).
A mostra decorreu de 10 de junho a 10 de setembro, na Ala Richelieu do Museu do Louvre, no âmbito da Temporada Cruzada Portugal-França, de diplomacia cultural entre os dois países, com comissariado de Charlotte Chastel-Rousseau, conservadora do departamento de pintura do museu parisiense.
Foram então apresentadas obras de artistas como Nuno Gonçalves (ativo 1450-antes de 1492), Jorge Afonso (ativo 1504-1540), Cristóvão de Figueiredo (ativo 1515-1554) e Gregório Lopes (ativo 1513-1550).
Comentários