“Eu não sei se sou a favor ou contra o TGV. O que eu sei é que nós não estamos em condições para tomar uma decisão inteligente sobre isso”, afirmou o antigo governante, na manhã de hoje, em Coimbra, na sessão da 1.ª edição do Festival Cidades Resilientes, promovida pela Câmara de Coimbra.
Na sessão, em que o debate se centrou no “Futuro das Cidades” e de que forma se vão transformar, Miguel Poiares Maduro questionou os presentes sobre a necessidade de ter Lisboa e Porto a menos de uma hora de distância, sustentando que só “faz sentido discutir” este tema se “existir resposta a esta pergunta”.
O últimos estudos que existem são de 2007 e que consideram que “a linha vai ser altamente deficitária. Mais de 500 milhões [de euros] de défice por ano”, sublinhou o ex-ministro.
“Só há um estudo que tenta justificar que as vantagens são superiores a esses 500 milhões” e que justifica com “aquela magia da economia, que cada um interpreta como sendo mais ou menos favoráveis”, destacou.
Miguel Poiares Maduro realçou a “centralidade” que a linha de alta velocidade vai provocar em Lisboa e no Porto e, consequentemente, o impacto para outras cidades do país.
Na sessão questionou ainda o “porquê” de o tema da centralidade não estar incorporado no estudo e se este investimento “compensa”, face às necessidades.
“Nós agora devíamos atender às novas formas de comunicação que se calhar tornam as viagens muito menos necessárias? Os ganhos de poupança na tal hora que se vai ganhar em relação a Lisboa e ao Porto já não são tão necessários, porque agora podemos fazer essas reuniões por Zoom? Será que ainda se justifica investir tanto?”, insistiu.
O ex-ministro concluiu dizendo que “há falta de inteligência nas políticas públicas”.
A sessão contou, durante a manhã de hoje, com intervenções designadamente do sociólogo e professor da Universidade de Coimbra Carlos Fortuna e do presidente da Câmara de Coimbra, Manuel Machado.
Organizado pelo município de Coimbra e pela plataforma de jornalismo, cultura e educação Gerador, o festival decorre no Convento São Francisco, em Coimbra, hoje e sábado, com a participação de mais de três dezenas especialistas em diferentes áreas, para debater o futuro das cidades e partilhar conhecimento em masterclasses, entrevistas ou ‘workshops’ espalhados pelo centro da cidade.
A iniciativa integra um conjunto de ‘instameets’, em que “influenciadores digitais captam os recantos da cidade, que se encontra na corrida ao título de Capital Europeia da Cultura em 2027”, referem os promotores.
A a propósito da candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura em 2027, Manuel Machado disse que “Coimbra 2027 ainda não é uma certeza, mas o caminho percorrido até aqui já produziu frutos: já constituímos e está a funcionar o Conselho Municipal de Cultura, já criámos o Encontro Literário Internacional Cidades Invisíveis, já instituímos, com a Associação Portuguesa de Escritores, o Grande Prémio de Literatura Biográfica Miguel Torga, já lançámos uma edição do orçamento participativo, com uma dotação de meio milhão de euros, destinada a financiar a projetos culturais relevantes para valorizar esta caminhada até 2027”.
A Candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura em 2027 “ainda não está ganha, mas já tem um legado relevante na cidade que, naturalmente, ambicionamos”, frisou.
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