O sono nem sempre foi visto como um ato ininterrupto, que acontecia durante a noite. Ao longo de vários séculos, dormir era segmentado em dois períodos diferentes (o primeiro e o segundo sono). No intervalo entre os dois as pessoas faziam de tudo um pouco: conversavam, tocavam música, relaxavam ou não faziam nada. 

Por volta de 350 a.C., Aristóteles referia-se ao sono como uma “paragem da consciência no coração”, que, na altura, se pensava ser a fonte dos sentidos e da sensibilidade. No entanto, em 162 d.C., Galeno identificou que o cérebro, ao invés do coração, era o ponto de origem da consciência.

À medida que se ia percebendo um pouco mais sobre como o sono funcionava, os sonhos continuavam a ser ainda mais misteriosos e na religião eram vistos como uma ponte sagrada para a transmissão de informação ou transcendência. Contudo, no período do Iluminismo (século XVII-XVIII), grandes filósofos começaram a refletir sobre o período em que dormiam e as pessoas começaram a interpretar os seus próprios sonhos, algo que até então era reservado para o clero.

Portanto, apesar de dormir ser algo que os seres humanos fazem desde "o início dos tempos", a maneira como olhamos para o ato tem sofrido mudanças drásticas que vão para além da forma como interpretamos os nossos sonhos.

Com o aumento das horas de trabalho e das atividades sociais, especialmente com a prosperidade económica do século XX, a falta de sono começou, em muitos casos, a ser um problema e, por isso, surgiram no mercado medicamentos inovadores que prometiam ajudar a ultrapassar esse desafio e colocar as pessoas a dormirem como um bebé.

Atualmente, o consenso geral, depois de muita investigação, é que o sono é algo positivo e desejável e que nos ajuda a renovar energia, consolidar processos cognitivos, revigorar o nosso sistema imunitário e preservar a nossa saúde mental.

“Dormir é mais do que estar inconsciente. É um processo no qual temos diferentes fases do sono: das fases mais leves às profundas”, explica a Verena Senn, líder da equipa de investigação de sono da Emma, a empresa alemã que  se posiciona como especialista no sono. O objetivo do seu departamento é encontrar formas de melhorar a vida das pessoas, integrando nos produtos da Emma tecnologia e funcionalidades inovadoras que ajudem as pessoas a dormir melhor.

As fases do sono

O corpo passa por vários ciclos de sono durante uma noite e, cada um, dura cerca de 90 minutos. Por isso, um adulto tem em média entre quatro a cinco ciclos de sono por noite. 

Cada ciclo é composto por um conjunto de fases desde o momento em que a pessoa adormece e vão progredindo e tornando-se cada vez mais profundas, até o corpo entrar em sono REM (do inglês, Rapid Eye Movement. Em português, "Movimento Rápido dos Olhos"), que é a fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais vívidos.

Cada fase do sono tem o seu propósito. Enquanto que as mais leves estão relacionadas com o processamento de informação, as mais profundas dizem respeito à regeneração.

Por norma, o sono REM é o mais difícil de alcançar, mas é também a fase na qual o corpo mais consegue relaxar. 

“Nas fases mais profundas do sono, ficamos muito relaxados: os nossos batimentos cardíacos e pressão arterial diminuem, a nossa respiração desacelera, as hormonas de crescimento são libertadas em alta concentração para que o nosso corpo se regenere”, esclarece Verena Senn. 

A média de tempo de sono recomendada para um adulto é de 8 horas, mas “cada pessoa tem um relógio interno diferente”, diz a cientista. Isto significa que é totalmente normal e saudável haver quem prefira dormir tarde e acordar tarde e outros que são o oposto. 

Amigos que só conseguem estudar à noite? Familiares que se levantam antes dos pássaros? Isto acontece devido a algo a que chamamos o cronotipo, ou seja, a predisposição natural que cada indivíduo tem de sentir picos de energia ou cansaço, de acordo com a hora do dia. O cronotipo é influenciado por uma série de fatores, desde ambientais como a própria genética. “Se os nossos pais são madrugadores, é muito provável que também sejamos”, diz a neurocientista. 

E por que é que precisamos de dormir? 

Colocando de uma forma simples, “para nos mantermos felizes e saudáveis”, diz a Verena Senn.

Podemos observar o sono em todo o reino animal, desde os pássaros que dormem enquanto voam aos ursos que hibernam durante meses. E nós não somos diferentes. 

Hoje sabemos que a privação do sono tem um impacto negativo na saúde, podendo levar a níveis de stress mais altos, ansiedade, depressão e um maior risco de ter doenças cardíacas e diabetes. Adicionalmente, pode também levar a uma redução na capacidade de criar e reter memórias bem como diminuir a inteligência emocional e a auto-estima. 

“Especialmente quando sonhamos, lidamos com o nosso passado emocional. As pessoas que sofrem de sintomas pré-clínicos de depressão superam-nos mais facilmente quando sonham excessivamente com um acontecimento difícil das suas vidas. Portanto, não é apenas importante sonharmos, mas também com o que sonhamos”, remata a especialista.