Na mais recente divulgação do portal de investigação jornalística, são mostradas supostas mensagens trocadas entre Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, em 13 de abril de 2017, um dia depois de a imprensa brasileira ter divulgado suspeitas de corrupção contra o ex-chefe de Estado, alegadamente envolvido no processo Lava Jato.
No diálogo, efetuado através da aplicação Telegram, Moro afirma que os indícios de irregularidades envolvendo Fernando Henrique Cardoso lhe pareciam “muito fracos”, sugerindo que o suposto crime já estaria “mais do que prescrito”.
Moro classificou ainda de “questionável” o envio da investigação do Ministério Público (MP) de Brasília para o Ministério Público de São Paulo sem se considerar a prescrição dos acontecimentos.
“Acho questionável pois melindra alguém cujo apoio é importante”, escreveu Moro.
Por sua vez, Deltan Dallagnol respondeu que acreditava que o envio das investigações para São Paulo, sem uma prévia análise de prescrição, teria sido propositado, com o intuito de transmitir uma perceção pública de “imparcialidade”.
“Suponho que de propósito. Talvez para passar um recado de imparcialidade”, justificou o procurador, que voltaria a usar o termo “imparcialidade” em outros diálogos com agentes da Justiça brasileira.
Em causa estavam investigações de “caixa dois”, ou seja, recursos financeiros não contabilizados e não declarados por Fernando Henrique Cardoso aos órgãos de fiscalização competentes do Poder Executivo.
De acordo o The Intercept, o empresário brasileiro Emílio Odebrecht relatou, no final de 2016, o pagamento de recursos não contabilizados, no âmbito das campanhas eleitorais de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República, das quais saiu vitorioso em 1994 e 1998.
Na época em que foi citado na delação de Emílio Odebrecht, Fernando Henrique Cardoso disse que não tinha “nada a temer” e defendeu a operação Lava Jato.
“O Brasil precisa de transparência. A Lava Jato está colaborando no sentido de colocar as cartas na mesa”, afirmou.
O The Intercept afirma que o antigo Presidente Fernando Henrique Cardoso foi citado na Operação Lava Jato pelo menos nove vezes, acrescentando que, caso fossem investigados e comprovados, nem todos os possíveis crimes cometidos pelo ex-mandatário estariam prescritos.
Segundo o portal de investigação jornalística, os procuradores da Lava Jato ponderaram investigar alegadas doações por parte do gigante brasileiro da construção Odebrecht à “Fundação Fernando Henrique Cardoso”, feitas em 2014, que poderiam ser suborno, e que não teriam sido investigadas. Nas conversas divulgadas, os procuradores debateram se haveria indícios suficientes para uma investigação e se seria conveniente.
Após a divulgação desta nova reportagem por parte do portal de investigação jornalística, o Ministério da Justiça brasileiro emitiu um comunicado afirmando que Sérgio Moro “não reconhece a autenticidade das supostas mensagens”.
“Sérgio Moro não reconhece a autenticidade de supostas mensagens obtidas por meios criminosos, que podem ter sido editadas e manipuladas, e que teriam sido transmitidas há dois ou três anos. Nunca houve interferência no suposto caso envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que foi remetido diretamente pelo Supremo Tribunal Federal a outro Juízo, tendo este reconhecido a prescrição”, disse a pasta da Justiça, acrescentando que as reportagens do The Intercept são “mero sensacionalismo”.
O The Intercept é um portal de jornalismo de investigação liderado por Glenn Greenwald, jornalista a quem o ex-analista norte-americano Edward Snowden revelou os programas de espionagem da Agência de Segurança Nacional norte-americana (NSA, na sigla em inglês).
Este portal iniciou no passado dia 09 de junho uma série de reportagens sobre a operação Lava Jato publicando textos com mensagens e conversas privadas entre promotores e juízes brasileiros na aplicação Telegram, que foram denunciadas de forma anónima.
Comentários