Em 27 de maio de 2021, as máquinas escavadoras da Mota-Engil, empresa a quem foi adjudicado o contrato de reconversão e exploração, entravam no antigo complexo industrial e concentravam os trabalhos na demolição dos elementos em avançado estado de degradação.
Passado um ano, as demolições “estão praticamente concluídas” e o projeto de execução, que concretiza a componente técnica e de especialidade, e que sustentará a intervenção, “está a ser ultimado”, revelou a autarquia.
À porta do complexo industrial, que conta com cerca de 26 mil metros quadrados, não se vislumbra grande movimento, nem mesmo grande entulho. Asseguram, no entanto, os que trabalham nas imediações, que máquinas e trabalhadores por lá entram todos os dias.
A reconversão do antigo Matadouro, desativado há mais de 20 anos, é um dos projetos “âncora” e de “inequívoca prioridade” tanto para a zona oriental da cidade, como para o executivo liderado pelo independente Rui Moreira.
Em abril de 2016, o projeto preliminar para a reabilitação do espaço era apresentado na 21.ª Trienal de Artes, Design e Arquitetura de Milão. Dois meses depois, o executivo municipal tomava conhecimento dos termos do concurso público, lançado em agosto desse ano.
O projeto de reconversão e exploração do Matadouro durante 30 anos e por 40 milhões de euros não convenceu, contudo, o Tribunal de Contas (TdC), que em fevereiro de 2019 recusou o visto ao contrato de empreitada que a empresa municipal GO Porto queria celebrar com a Mota-Engil devido a “ilegalidades”.
O chumbo do tribunal, acusado por Rui Moreira de querer “matar o projeto”, motivou a entrega de um recurso por parte da Câmara do Porto, contestando o facto daquele órgão judicial ter considerado o modelo do contrato uma parceria público-privada.
Recusando-se a esperar “uma eternidade” pela decisão do TdC ao recurso interposto, a Câmara do Porto preparava, em maio de 2019, um plano B, e em fevereiro de 2020, pedia, juntamente com a Câmara de Lisboa, uma audiência ao Presidente da República para falar sobre os projetos “presos” no TdC.
A luz verde do TdC ao projeto do antigo Matadouro chegava em abril de 2020 e cinco meses depois, a obra era entregue à Mota-Engil.
Os trabalhos, previstos para se iniciarem em setembro de 2021, anteciparam-se e, em maio desse ano, já as máquinas entravam no complexo industrial, onde outrora funcionou a antiga fábrica Invencível e a Sociedade Protetora dos Animais, que ocupava uma ala com boxes perfiladas, umas atrás das outras.
Mantendo a "memória histórica e natureza arquitetónica", a reconversão do complexo prevê novos espaços empresariais, comerciais, de lazer, de cariz cultural e artístico, mas também espaços destinados à ação social, de acordo com a informação partilhada na página oficial da GO Porto.
O projeto prevê ainda a criação de um percurso interno, que permitirá a circulação entre a Rua de São Roque da Lameira e a estação de metro do Dragão, "atravessando o interior do edifício principal, subindo por um edifício novo a construir em altura no topo norte do complexo, e atravessando a Via de Cintura Interna (VCI) por intermédio de uma nova passagem superior".
Dos cerca de 26 mil metros quadrados, a reconversão prevê a utilização de cerca de 20.500 metros quadrados. Destes, 12.500 metros destinam-se a espaço empresarial, a ser explorados pela Mota-Engil, e o restante a espaços a serem explorados pelo município.
Nos oito mil metros que ficarão sob a gestão da autarquia haverá “valências culturais”, como uma nova extensão do Museu da Cidade (que albergará a coleção de Távora Sequeira Pinto), uma extensão da Galeria Municipal, um acervo e depósito de obras de arte, um espaço educativo, um espaço para práticas sociais e uma área para o projeto Ateliers Municipais.
O investimento de mais de 40 milhões de euros será integralmente assegurado pela Mota-Engil e no final dos 30 anos da concessão, o equipamento regressa à esfera municipal.
A obra de reconversão do antigo Matadouro tem um prazo de conclusão de dois anos, “e o ponto de partida para a contagem” arrancou no início do advento de 2022.
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