"Estava bastante cansado. Mas à terceira vez atendi e foi então que me disseram para meter uma toalha molhada na cara e sair imediatamente", relatou à agência Lusa.
Quem o avisou foi um vizinho do mesmo andar, Miguel Alves, que estava a chegar a casa pela 01:00 a casa e deu o alarme ao ver fumo no quarto andar.
João Dias, que está em Londres há dois anos e meio e residia no apartamento desde outubro de 2016, desceu as escadas, tendo encontrado apenas um bombeiro que ajudava um idoso a descer.
"Cheguei lá abaixo às 01:34. Sei porque olhei para o telefone", precisou.
As horas seguintes foram passadas ao telefone, procurando inteirar-se da situação de outros portugueses que residiam no 21.º andar.
"Primeiro atenderam, mas, como diziam que não conseguiam sair, comunicámos às autoridades. Depois o telemóvel deixou de tocar e ficámos preocupados", confiou.
Entretanto, João Dias, que saiu apenas vestido com a roupa de dormir, foi observando o incêndio a alastrar aos pisos superiores, onde se viam pessoas a chamar e a pedir ajuda.
Por sorte, o outro jovem português com quem divide alojamento encontrava-se fora, a trabalhar.
"Da forma como aquilo ardeu, vai ser difícil identificar as vítimas. Ficou tudo em cinzas", lamentou, mostrando-se ainda chocado com o sucedido.
A família portuguesa que estava por localizar, composta por um casal e duas crianças, acabou por ser hospitalizada.
As duas jovens, de 10 e 12 anos, chegaram a ter prognóstico reservado, mas o estado de saúde evoluiu e já não inspira cuidados, permanecendo apenas a mãe, em estado avançado de gravidez, sob observação.
João Dias, que é coordenador do Programa Escolhas no centro comunitário português em Londres, conseguiu já tomar um duche e vestiu roupas emprestadas por um amigo.
Para já tem alojamento e ofertas de ajuda, mas ainda está em choque, confessando: "Ainda não deu para pensar, ainda não caí na realidade".
O Serviço de Ambulâncias de Londres divulgou que 74 pessoas estão a receber cuidados médicos, 20 das quais estão em estado crítico, após ficarem feridas no incêndio que atingiu a Torre Grenfell, no oeste de Londres.
A polícia disse que pelo menos seis pessoas morreram no incêndio, que começou depois da meia-noite de quarta-feira na Grenfell Tower, zona próxima de Notting Hill, mas admitiu que o número possa ser maior.
O incêndio, cuja causa ainda é desconhecida, começou de madrugada no prédio de habitação social onde existem 120 habitações e onde se estima que moravam cerca de 500 pessoas.
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