"Eu acho que é necessário ter educação. Antes de criar a campanha no [site] GoFundMe tentei outras coisas: enviei emails para empresas, escrevi cartas com a minha história”, disse à agência Lusa em Londres, onde vive desde 2016 com os tios.
Embora tenha sido bem sucedida na sua campanha, que angariou mais do que as 40 mil libras (45 mil euros) desejadas, a jovem de 18 anos admite que a Internet pode não ser a solução para todos.
"O que eu diria é que é preciso fazer alguma coisa. Pedir patrocínios, fazer qualquer coisa. Se sentirem que o GoFundMe é o caminho, força, senão façam outra coisa”, insistiu.
A portuguesa natural de Coimbra criou a campanha por sugestão de uma pessoa na igreja que frequenta após perceber que não era elegível para uma bolsa de subsistência porque só reside no Reino Unido há quatro anos e as regras exigem um mínimo de seis anos.
Foi a mãe, assistente numa clínica de fisioterapia, que encorajou a mudança de Vitória para a capital britânica, onde acreditava que teria mais oportunidades para desenvolver os talentos académicos que já demonstrava em Portugal.
Custou a Vitória habituar-se a usar uniforme na escola e a viajar de autocarro, à comida diferente e a estar longe da mãe e dos dois irmãos, mas um ano depois, graças aos filmes que via na televisão com legendas, já dominava a lingua inglesa e sentiu-se mais confiante.
"No ensino, matemática foi a disciplina à qual me adaptei mais depressa porque são números e é igual a Portugal. Sempre quis ir para a universidade e no princípio queria estudar economia. Mas quando cheguei aqui estudei economia na escola, não gostei”,
Na escola secundária Brampton Manor Academy, em East Ham, no este de Londres, teve notas altas nos exames GCSE, com destaque para matemática, e que repetiu nos exames A-Level, o que garantiu um lugar na Universidade de Warwick.
Socialmente, Vitória Mário também se integrou bem numa escola e cidade onde a população é mais multicultural do que Coimbra.
"Em Portugal, na minha escola secundária havia três raparigas negras e uns 10 rapazes. Para mim não era um grande problema porque nasci naquele ambiente e estava habituada, mas quando cheguei aqui era tudo diferente, com muitos asiáticos num ambiente muito mais diverso culturalmente. Sinto-me mais apoiada como rapariga negra porque aqui há mais pessoas negras”, explicou à Lusa.
Interessada em desenvolver uma carreira em tecnologia, Vitória garantiu o financiamento para as propinas da universidade, mas para pagar o alojamento e outros custos, como alimentação, transportes e a compra de um computador calculou que necessitaria de 40 mil libras nos próximos quatro anos.
"Embora a minha história não seja única, o meu sonho de me tornar uma matemática não é apenas uma oportunidade de mobilidade social para a minha família e para mim, mas [é uma oportunidade] para inspirar pessoas que estiveram em posições semelhantes a aspirarem a transformarem-se na melhor versão delas mesmas e a lutarem pelos seus sonhos, apesar da desigualdade de género / raça, questões de imigração e barreiras financeiras”, escreveu na apresentação da campanha.
A iniciativa recebeu alguma cobertura mediática e chamou a atenção de Taylor Swift, que disse ter ficado impressionada pelo "empenho e dedicação em transformar os sonhos em realidade”, contribuindo com as 23.373 libras (26 mil euros) que restavam para atingir a meta.
Poucas horas depois, a jovem portuguesa foi notícia em todo o mundo, recebendo centenas de donativos e várias propostas de estágios profissionais, além de pedidos de ajuda para causas semelhantes.
"Taylor Swift não me contactou nem antes nem depois, nunca me contactou. Não sei dizer porque decidiu ajudar-me. Gostei da mensagem que ela deixou, foi simpático. Também gosto das mensagens que as outras pessoas deixaram. Mas é um pouco assustador por causa do número de mensagens”, desabafou à Lusa.
Esta experiência levou Vitória Mário a decidir criar no futuro uma organização sem fins lucrativos "para poder ajudar pessoas que vão estar na mesma situação, para não ficarem sem rumo, e também ajudar pessoas que são novas no país para aprenderem a falar inglês”.
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