“Muitas empresas [do setor têxtil] pararam a produção durante alguns dias na expectativa de que os preços da eletricidade e do gás natural baixem para poderem retomar a laboração”, disse à Lusa o dirigente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.
Segundo Mário Jorge Machado, o aumento do custo da energia, associado ao encarecimento das matérias-primas, está a contribuir para uma “situação muito complicada” no mercado.
“As empresas decidiram encerrar alguns dias porque o custo de estar a laborar é muito superior ao custo de estarem encerradas”, acrescentou.
A situação afeta em particular as áreas da fiação, da tecelagem e dos acabamentos e menos a área da confeção, que não é um grande consumidor de energia, explicou.
O custo das matérias primas tem sido um problema, mas o aumento do preço da energia é “dez vezes maior”, sublinhou.
Mário Jorge Machado disse, no entanto, apenas ter conhecimento de uma empresa do setor têxtil que decidiu encerrar definitivamente, tendo essa decisão sido tomada ainda antes do início da guerra na Ucrânia.
“O problema da energia já começou antes da guerra, nomeadamente no gás natural que aumentou 600% desde há seis meses”, referiu o presidente da ATP.
Este problema estende-se ao setor da cerâmica também. Segundo o presidente da Associação Portuguesa das Indústrias de Cerâmica e de Cristalaria (APICER), José Sequeira, há já sete empresas com a laboração suspensa, sendo que todas elas situam-se na região Centro.
“Preocupam-nos muito essas sete empresas, mas preocupa-nos muito mais a perspetiva de que, no mês de abril, esse número possa ser bastante superior”, frisou o dirigente, alertando para que, “nas atuais circunstâncias, é impossível manter a laboração”.
O problema vai surgindo “à medida que as empresas têm que fazer a renovação dos seus contratos de fornecimento de energia” e são confrontadas com os novos preços, explicou.
José Sequeira disse à Lusa que as empresas que se mantêm em laboração o fazem porque “é importante não quebrar as cadeias comerciais” e “ir alimentando essa procura, ainda que com medidas que provocam o desgaste das empresas”.
“As empresas não estão, naturalmente, concebidas para estarem paradas. A paralisação já é um prejuízo em si mesmo, mas o facto de quando trabalham estarem a produzir e a perder dinheiro é ainda mais agravante do que propriamente estarem paradas”, lamentou o responsável da APICER.
Na segunda-feira, o ministro de Estado, da Economia e Transição Digital, Pedro Siza Vieira, apresentou novos apoios às empresas para fazer face ao aumento dos preços da energia.
Na conferência de imprensa, Siza Vieira disse que “é reduzido o número de empresas que até ao momento sinalizou que poderá suspender a atividade devido à escalda dos preços da energia”, especificando que o impacto dos custos é mais acentuado junto das empresas que consomem gás natural, sendo que 70% têm contratos cujo preço está indexado ao preço diário no mercado de ‘spot’.
Entre as empresas que já sinalizaram a possibilidade de parar a atividade face ao aumento dos custos da energia estão algumas do setor da cerâmica e da área de acabamentos no setor têxtil, indicou o ministro.
Neste âmbito, ainda que o Governo possa tomar “medidas paliativas”, que “são muito bem vindas”, José Sequeira defendeu que a única forma de as empresas enfrentarem a atual situação é com “auxílios de Estado”.
“Não há outra hipótese”, frisou o dirigente associativo, considerando que, se é certo que os “auxílios de Estado” são “um mecanismo que funciona um bocadinho ao arrepio das leis da concorrência”, também o é que se vive uma fase “de enormes dificuldades e de emergência energética”.
“Nestas circunstâncias, há que recorrer a soluções de emergência também e, de facto, o auxílio de Estado é a única que se afigura como aquela que permite a laboração das empresas, que permite que as cadeias comerciais continuem ativas. Portanto, é aquela que, na verdade, pode solucionar mais o problema”, acrescentou.
José Sequeira sublinhou que “o que se pretende é que as empresas trabalhem”, até porque “há encomendas” e o setor da cerâmica “vem de um ano de 2021 em que aumentou o seu volume de negócios em cerca de 20%”.
“Portanto, o que as empresas precisam e querem é trabalhar”, garantiu.
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