Gouveia e Melo é apontado como candidato às eleições presidenciais, mas até ao momento não confirmou definitivamente qualquer posição, tendo informado no final de novembro o Conselho do Almirantado da sua indisponibilidade para continuar na chefia do Estado-Maior da Armada, terminando o mandato em dezembro, de acordo com fontes militares ouvidas pela Lusa.

“Eu hoje não vou fazer entrevistas, não vou fazer nada até sair das Forças Armadas”, disse o Chefe de Estado-Maior da Armada, 64 anos, após a lição de abertura das IV Jornadas Defesa/Saúde: “Colaboração Civil-Militar no contexto da Segurança Sanitária” que decorrem na Fundação Gulbenkian, em Lisboa.

O chefe de Estado-Maior da Armada não especificou quando tenciona abandonar as Forças Armadas.

Após o discurso do ministro da Defesa, Nuno Melo, que abandonou o colóquio para participar na reunião do Conselho de Ministros, o almirante Gouveia e Melo abriu os trabalhos para falar da participação dos militares durante a pandemia de Covid-19 (SARS-Cov-2), em Portugal.

“Fazer uma lição de abertura é uma coisa difícil porque eu não sou académico nem tenho dons de oratória para fazer lições. Eu venho falar sobre o período entre 2020 e 2021 e as experiências enquanto militares”, disse criticando a designação Civil-Militar referindo-se ao tema do colóquio.

“A primeira coisa de que não gosto é desta designação ‘Civil-Militar’ porque parece que há duas sociedades. Não há uma sociedade civil e uma sociedade militar. Nós somos uma única sociedade até porque não há uma designação Civil-Bombeiros, Civil-Forças de Segurança”, afirmou.

Referindo-se aos aspetos práticos da missão durante a pandemia de SARS CoV-2, Gouveia e Melo disse que “a tal dicotomia (civil/militar) não foi aceite no início” e lamentou que a capacidade dos militares tenha chegado a “ser menosprezada”.

“Eu hoje quando ouço alguns comentadores a falarem sobre o processo de vacinação, passando todo este tempo, dá a sensação de que há uma tentativa de menorizar o papel que as Forças Armadas tiveram nesse processo e essa menorização é muito injusta”, acusou o almirante Gouveia e Melo sem se referir a nomes.

Recordando a missão durante a pandemia de Covid-19, Gouveia e Melo disse também, sem referir nomes, que teve a sensação de que havia “muitas capoeiras com muitos galos” e que os militares conseguiram quebrar barreiras e “criar uma única capoeira”.

Por outro lado, o chefe de Estado-Maior da Armada referiu-se à postura perante à comunicação social na passagem das mensagens, tendo admitido que o uso do camuflado ajudou a passar mensagens de liderança.

“Estes aspetos sobre liderança incluíram a parte mediática, a condução psicológica do campo batalha e lembro-me que quando fui fazer a primeira apresentação ao governo logo que fui coordenador referi quatro grandes tópicos e o primeiro era ‘moldagem psicológica no campo de batalha’ e a sensação que tive era de que ninguém estava a perceber o que eu estava a dizer”, recordou.

Afirmando que apesar da então ministra da Saúde Marta Temido ter “percebido” a mensagem, o almirante revelou que continuaram a existir alguns momentos de incompreensão.

“Uma semana depois telefona uma assessora de imprensa da ministra a perguntar se eu podia dar dez pontos defensivos para eles poderem usar na comunicação social. Eu disse: ‘minha senhora não sei do que está a falar porque eu sou submarinista e só sei atacar. Se é para pontos defensivos sou incapaz. Mas já agora como nós estamos com a mão no volante não meta a mão no volante porque atrapalha a condução porque a senhora está a tentar conduzir uma coisa que já estamos a conduzir'”, contou.

O almirante Gouveia e Melo concluiu que este “conjunto de incidentes” acabaram por ser construtivos e criar resultados.

A Lição de Abertura de Gouveio e Melo “O Caso da Resposta Nacional à Pandemia de Covid-19” prolongou-se durante meia hora.

As IV Jornadas Defesa/Saúde terminam hoje à tarde.

A comunicação de Gouveia e Melo ao Conselho do Almirantado, o conselho superior do ramo, composto por todos os vice-almirantes no ativo, de que está indisponível para continuar mais dois anos na chefia da Armada foi feita no dia 27 de novembro, segundo disseram à Lusa fontes militares.

O almirante também já transmitiu esta informação ao primeiro-ministro, Luís Montenegro, e ao ministro da Defesa Nacional, Nuno Melo, adiantaram à Lusa as mesmas fontes.