O estratagema estava delineado: Vitorino Silva, recandidato à Presidência da República, queria percorrer o país de lés a lés e apresentar o 'cartaz de 1,78 metros'.
Mas a pandemia e confinamento tudo mudaram e, por isso, também a estratégia teve de ser alterada.
A solução foram uns grandes auscultadores pretos e uma janela de 'Zoom'. E foi munido destas ferramentas que Vitorino Silva levou a “voz” e a “sabedoria” do povo até aos eleitores.
Na estrada esteve apenas os primeiros cinco dias das duas semanas de campanha eleitoral.
Mantendo o registo popular a que já habituou os portugueses, o candidato popularmente conhecido como “Tino de Rans” 'lançou a primeira pedra' da campanha na Fortaleza de Peniche. Aqui mostrou as pedras que levou ao debate televisivo com o adversário André Ventura para falar sobre diversidade e sobre o papel desta na concretização do 25 de Abril.
Foi dar sangue e “um pouco de coragem” a um país a braços com a pandemia, cumpriu uma promessa que fez há cinco anos e revisitou a sede de um rancho folclórico, e 'subiu' o país rumo a Rans, no concelho de Penafiel (Porto).
Depois o país voltou a fechar e Vitorino Silva fechou-se “com o povo” em sinal de protesto contra “as mordomias dos políticos”.
Voltou-se para as redes sociais e para um 'Zoom' de manhã, outro durante a tarde e outro ao final do dia.
Equipado com uns auscultadores a partir da sala da própria casa, entrou não pela porta, mas pelas janelas das videoconferências em casa dos portugueses, para falar sobre a intenção de levar “mais portugueses a ver o mar”, para criticar as pedras “com musgo” no interior do país desprovido de crianças.
À agência Lusa disse que, apesar de adaptada à última da hora, a campanha “correu muito melhor” do que se tivesse feito a típica volta pelo país, considerando que o que inicialmente parecia ser um percalço 'abriu um mundo' que a rua não alcança.
“Através do 'Zoom' consegui chegar aos quatro cantos do mundo”, sublinhou o calceteiro de 49 anos.
Vitorino Silva sentiu “que as pessoas ficaram contentes por ter ficado em casa” e que não parou “um minuto”.
O candidato não se mostrou preocupado por ter preterido o contacto presencial com os eleitores, ainda que com distanciamento físico e com máscaras.
“Já ando há 49 anos na rua, não é por estar quatro ou cinco dias em casa”, salientou, acrescentando que está “onde o povo deve estar” e é neste espetro que Vitorino sempre se quis posicionar.
As alegorias e os bordões utilizados nas entrevistas e debates também acompanharam o candidato para todas as ações de campanha virtuais, repetidas quer fosse para académicos, estudantes, emigrantes ou até cidadãos que vivem nos arquipélagos da Madeira e dos Açores.
Crítico acérrimo da realização das eleições durante o período mais crítico da pandemia e mais frio do ano, Vitorino Silva chegou a dizer que a percentagem de abstenção seria gigantesca e que seria “uma vergonha” um candidato vencer com poucos votos.
Contudo, a opinião sobre a abstenção mudou nos últimos dias: “Acho que no domingo o pessoal vai desabafar, vai haver menos abstenção. O povo vai votar massivamente, não querem que aconteça o que aconteceu nos Estados Unidos da América”.
O calceteiro que há cinco anos conseguiu 152.094 votos este ano tinha receio de voltar “a ser abafado”, mas acabou por debater frente-a-frente com todos os candidatos e teria tido mais debates do que os adversários, não tivessem sido cancelados os debates agendados no Porto Canal.
Vitorino Silva está confiante de que vai disputar a segunda volta das presidenciais, só não conhece ainda o adversário, mas já seria uma vitória ter mais um voto do que em 2016.
As duas semanas de campanha eleitoral, na opinião do candidato, apontam para isso: “Tenho o barómetro.”
As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de covid-19 em Portugal, estão marcadas para domingo e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).
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