A escolha de Fernando Pessoa para patrono de um projeto de intercâmbio universitário no espaço de Língua Portuguesa foi contestada pela presidente da PADEMA — Plataforma para o Desenvolvimento da Mulher Africana, a angolana Luzia Moniz, devido às alegadas ideias racistas do poeta português.
Num texto de opinião publicado no Jornal de Angola em 10 de fevereiro, Luzia Moniz defendeu que Portugal é um “país onde a mentalidade esclavagista fascista ainda é dominante” e considerou o escritor Pessoa como uma “figura sinistra”, pedindo aos países africanos membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) que “revertam essa situação”.
“Os irmãos de Cabo Verde, que neste momento presidem a CPLP, têm uma responsabilidade acrescida nesta questão”, escreveu ainda a socióloga e jornalista.
O assunto não foi abordado na visita de hoje de Jorge Carlos da Fonseca à sede da CPLP em Lisboa, onde se encontrou com o secretário executivo, o português Francisco Ribeiro Telles, e os representantes permanentes da organização.
“Ninguém falou disso. Oficialmente, como presidente em exercício da CPLP, não recebi nenhuma comunicação, nenhum comentário, nenhuma opinião critica”, disse o Presidente cabo-verdiano, referindo que leu com atenção a opinião de Luzia Moniz, mas que a questão não foi colocada ao nível da instituição.
“Do meu ponto de vista, uma coisa é o escritor, o pensador, a sua obra, outra coisa é a opinião mais ou menos política” que Fernando Pessoa “poderá ter emitido” sobre fenómenos como o esclavagismo, vincou o chefe de Estado.
O secretário executivo da CPLP considerou, por outro lado, que existe “uma grande confusão” sobre o assunto.
“A primeira vez em que se falou do Programa Pessoa — e não Fernando Pessoa — foi em 2013 e pretendia ser uma réplica do programa Erasmus. Em 2015, houve uma proposta no sentido de a Assembleia Parlamentar da CPLP adotar o programa, que foi ratificada em 2017 em Cabo Verde. Em nenhum lado está escrito que é o programa Fernando Pessoa, o que se diz é o Programa Pessoa são coisas diferentes”, sublinhou Francisco Ribeiro Telles.
“Foi uma decisão da Assembleia Parlamentar da CPLP, subscrita por todos os Estados-membros”, reforçou o dirigente da CPLP.
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