Tanto a Associated Press como a Reuters confirmam os relatos iniciais de que Jovenel Moïse foi assassinado em sua casa, sendo que a Primeira Dama, Martine Marie Etienne Joseph, foi hospitalizada.

As agências citam o primeiro-ministro interino do país, Claude Joseph. Segundo Joseph, um grupo de indivíduos não identificados invadiu a residência oficial do Presidente do Haiti e assassinou-o a tiro.

Por volta da 1 da manhã da noite de terça-feira, 6 de julho, para quarta-feira, 7 de julho, um grupo de indivíduos não identificados, alguns dos quais falavam em inglês e espanhol, atacou a residência privada do Presidente da República e, assim, feriu mortalmente o chefe de Estado”, anunciou o chefe de governo.

Joseph declarou "estado de exceção", o que concede maiores poderes ao Executivo. "Em estrita aplicação do artigo 149 da Constituição, acabo de presidir um Conselho Extraordinário de ministros e decidimos declarar o estado de exceção em todo o país", anunciou Joseph num discurso divulgado nas redes sociais.

Joseph prometeu que "os agressores, os assassinos de Jovenel Moïse pagarão na Justiça pelo o que fizeram". "A democracia e a República irão vencer. As forças obscuras perderão", afirmou.

O assassínio de Moïse apenas dois dias depois de ter nomeado um novo primeiro-ministro, Ariel Henry, para substituir o ainda vigente Claude Joseph, que por sua vez foi escolhido a 14 de abril depois de o Governo de então ter renunciado ao cargo legislativo.

O Haiti, uma das nações mais pobres do continente norte-americano, é atormentado pela violência e insegurança, especialmente por parte de gangues começaram a tomar conta das ruas, assim como por crises financeiras, carência de géneros e instabilidade política. Henry é o sétimo primeiro-ministro a ocupar o cargo em 4 anos.

O país ainda tenta recuperar do devastador terramoto de 2010 e do furacão Matthew em 2016.

A inflação tem aumentado e os alimentos e combustível escasseiam no país das Caraíbas com mais de 11 milhões de habitantes, 60% dos quais ganha menos de dois dólares (1,69 euros) por dia.

Moïse, acusado de inação diante perante a crise generalizada, enfrentava forte desconfiança de grande parte da população civil.

O intuito do presidente assassinado em nomear Ariel Henry era o de alegadamente estabilizar o executivo de forma a organizar eleições legislativas livres, algo que o Conselho de Segurança da ONU, os Estados Unidos e a União Europeia consideram como uma prioridade até o final de 2021.

O Conselho de Segurança da ONU tinha insistido na última quinta-feira na “urgente realização de eleições presidenciais e legislativas livres em 2021” no Haiti e voltou a condenar a violência que assola o país. Numa declaração unânime, o Conselho reafirmou “a sua profunda preocupação com a deterioração das condições políticas, de segurança e humanitárias no Haiti”, exigindo que “os perpetradores de violações e abusos aos direitos humanos” sejam levados à justiça.

A Casa Branca classificou o assassinato do presidente do Haiti de "horrível" e disse que os Estados Unidos estavam dispostos a ajudar na investigação.

A porta-voz do governo, Jen Psaki, declarou que os Estados Unidos vão "ajudar o povo e o Governo do Haiti se houver uma investigação", acrescentando que a Casa Branca "está ainda a recolher informações" e que o presidente Joe Biden será informado sobre o ataque em breve.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, disse que ficou "chocado" com este "ato hediondo".

Um mandato de crises

Moïse, ex-empresário que construiu diversos negócios no norte do país, de onde é natural, irrompeu no cenário político em 2017 com uma mensagem de reconstrução, com um campanha com promessas populistas, mantendo a retórica mesmo depois de ser eleito em fevereiro de 2017.

O tempo de duração do seu mandato tornou-se fonte de confronto político. Moïse sustentava que duraria até 7 de fevereiro de 2022, mas outros afirmavam que terminou em 7 de fevereiro de 2021. A discordância decorre de Moïse ter sido eleito numa votação posteriormente anulada por fraude. Um ano depois, ganhou as eleições novamente.

Um referendo constitucional programado para abril foi inicialmente adiado para 27 de junho e depois para 26 de setembro devido à pandemia do coronavírus. Enquanto isso, as eleições locais e municipais foram adiadas até janeiro de 2022.

A primeira volta das eleições presidenciais e legislativas estava prevista para 26 de setembro e a segunda para 21 de novembro.
Com o apoio de Moïse, estava também a ser elaborado o texto da reforma constitucional que visava fortalecer o Poder Executivo. Dois projetos propunham revogar o Senado e abrir a possibilidade de dois mandatos presidenciais consecutivos, no entanto, estes foram rejeitados pela oposição e por organizações da sociedade civil.

A oposição denunciava que o mandato do chefe de Estado é ilegítimo, considerando impossível organizar uma votação dada a insegurança geral que reina na ilha. Desde janeiro de 2020, Moïse governava por decreto, devido à falta de eleições organizadas nos últimos anos no Haiti.

A atual Carta Magna foi redigida em 1987, após a queda da ditadura de Duvalier, e declara que "qualquer consulta popular destinada a modificar a Constituição por referendo é formalmente proibida". Os críticos também afirmam que é impossível organizar uma consulta, perante do estado de insegurança no país.

Na segunda-feira, Moïse nomeou o médico Ariel Henry como primeiro-ministro. Henry, de 71 anos, fez parte da resposta ao coronavírus e ocupou cargos no governo em 2015 e 2016 como ministro do Interior e, depois, como ministro dos Assuntos Sociais e do Trabalho.

Também foi membro do gabinete do ministro da Saúde de junho de 2006 a setembro de 2008, antes de se tornar chefe de gabinete. Ocupou este cargo entre setembro de 2008 e outubro de 2011.

Moïse encarregou Henry de "formar um governo de base ampla" para "resolver o problema flagrante da insegurança" e trabalhar para "a realização de eleições gerais e do referendo".

Henry é próximo da oposição, mas a sua nomeação não foi bem recebida pela maioria destes partidos, que continuaram a exigir a renúncia do presidente.