O chefe de governo conservador ativou, nesta segunda, um procedimento parlamentar polémico para aprovar parte do orçamento sem submetê-lo a votação, por ter a certeza de que a Câmara baixa do Parlamento lhe negaria a maioria.
"Agora, cabe a vocês, deputados, decidir se o nosso país está dotado de textos financeiros responsáveis, essenciais e úteis para os nossos concidadãos. Ou se estamos a entrar num território desconhecido", disse Barnier perante a Assembleia Nacional.
O primeiro-ministro francês tomou a decisão apesar de a esquerda e a extrema direita ameaçarem com uma moção de censura caso ele lançasse esta ferramenta.
Após o anúncio de Barnier, a França Insubmissa (LFI, esquerda radical) anunciou que apresentaria uma moção de censura.
O primeiro-ministro "enfrentará, nesta quarta-feira, tanto a desonra quanto a censura", disse Mathilde Panot, líder do partido no Parlamento.
O Reagrupamento Nacional (RN, extrema direita), o partido com mais deputados no Parlamento, informou que apoiará uma moção da esquerda e que apresentará uma própria.
O RN "votará pela censura" do governo de Barnier, nomeado em setembro pelo presidente de centro direita francês, Emmanuel Macron, informou o grupo na rede X.
A adoção de uma moção de censura na França exige os votos de pelo menos 288 deputados.
Se a extrema direita e o conjunto da esquerda votarem a favor, o governo minoritário de centro direita cairá. A votação está prevista para esta quarta-feira.
A segunda economia da União Europeia está mergulhada numa crise política desde que Macron decidiu antecipar as eleições legislativas, previstas para 2027, o que resultou num governo legislativo sem maioria clara.
Concessões
Nos últimos dias, Barnier multiplicou as concessões à extrema direita, da qual depende a sobrevivência do partido, para evitar que os seus deputados apoiem uma moção de censura da esquerda durante a tramitação de aprovação do orçamento de 2025.
Mas Marine Le Pen, líder da extrema direita francesa, disse, nesta segunda, que os seus deputados vão votar a favor de todas as moções, "venham de onde vierem".
Se o governo cair, será a primeira moção de censura a prosperar desde a derrota do executivo de Georges Pompidou, em 1962, quando Charles de Gaulle era o presidente.
O governo de Barnier também seria o mais curto da V República francesa, iniciada em 1958.
Esta é a primeira vez que Barnier ativa o artigo 49.3 da Constituição, que permite aprovar uma lei sem passar pela votação dos deputados.
A queda do seu governo aprofundaria a crise política na França. Algumas vozes, inclusive da direita no governo de Macron, consideram que a única saída seria, então, a demissão do presidente, cujo mandato termina em 2027.
Nos últimos dias, o governo advertiu para a possibilidade de que ocorra uma "tempestade" económica em caso de uma moção de censura.
O processo de adoção do orçamento é complexo na França e a votação desta segunda-feira é a primeira de uma longa série até meados de dezembro.
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