Em Évora, o leilão de ovinos que antecede a Páscoa, organizado pela Associação dos Jovens Agricultores do Sul (AJASUL) e pela Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Merina (ANCORME), ambas com sede na cidade, é sempre muito concorrido.
O “vaivém” de carrinhas e camionetas de caixa aberta, algumas com atrelados para descarregar os animais no parque do Centro de Desenvolvimento Agropecuário de Évora (antigo IROMA), começa cedo e dura toda a manhã, apesar de o leilão se realizar só à tarde.
“Este é o melhor lote”, afirma à agência Lusa, em tom de brincadeira, Luís Madeira, criador de ovinos com uma exploração neste concelho alentejano, enquanto aponta para os 17 borregos que leva ao leilão.
Com os animais já na manga de entrada, Luís Madeira lembra que “a tradição em Portugal e no Alentejo é comer-se o borrego pela Páscoa” e mostra-se resignado com o negócio: “Pelo menos paga as despesas e o trabalho”.
“Os fatores de produção aumentaram significativamente”, com uma subida de “35 ou 40%”, justifica, assinalando igualmente que na venda em leilão os criadores estão sujeitos às melhores ofertas e os valores “oscilam bastante”.
Na manga de entrada, os animais que vão a leilão, sobretudo borregos, mas também ovelhas, cabras e cabritos, são identificados através de dispositivos eletrónicos, pesados e, depois, colocados por lote em parques.
Atualmente, segundo o secretário técnico da ANCORME, Tiago Perloiro, o valor pago por um borrego vivo varia entre os três e quatro euros por quilo, dependendo do peso. O preço é mais alto para animais mais leves e mais baixo para os mais pesados.
“O mercado do borrego tem estado muito interessante do ponto de vista económico”, mas, “de algum tempo para cá, o clima não tem ajudado e houve um aporte de borregos muito grande ao mercado, porque as explorações não têm alimentação disponível”, explica.
Tiago Perloiro alerta que a entrada no mercado desses animais “vai retrair um bocado a procura” e o setor encontra-se agora “numa fase de indecisão”, escusando-se a estimar o volume de vendas nesta Páscoa.
Já em relação aos preços, “espero que se possam manter quase equivalentes” aos praticados na Páscoa de 2022, refere, antecipando, ainda assim, que o valor “vai estar um bocadinho mais baixo”.
Outro dos participantes no leilão é Bruno Pateiro, com uma exploração no concelho de Reguengos de Monsaraz (Évora), que se tornou produtor da raça Merino Branco há dois anos, depois de ter deixado o negócio dos ovinos de leite.
“O borrego está com um preço que me parece favorável. Parece muito bom, embora os fatores de produção, como todos sabem, tenham subido bastante e a escassez de pastagem, devido à seca, também afeta todo o negócio”, observa.
Considerando que o valor pago é suficiente “para cobrir as despesas”, este produtor salienta que, devido ao aumento dos custos de produção, o preço “devia andar perto dos 120 euros por um borrego de cerca de 30 quilos”, ou seja, quatro euros por quilo.
O presidente da AJASUL e também produtor, Diogo Vasconcelos, partilha da mesma opinião e sublinha que o preço de venda, nos últimos dois ou três anos, até subiu “talvez 5% ou 10%”, mas o problema é que “tudo o resto subiu muito mais”.
“Estamos com sérias dificuldades em equilibrar as contas entre aquilo que nos custa produzir e o preço a que vendemos”, pois “a subida dos preços pagos ao produtor não acompanhou, nem de perto, nem de longe, a subida dos custos de produção”, frisa.
Para o dirigente associativo, que desta vez não leva animais a leilão, o negócio dos borregos, devido ao aumento de custos com o gasóleo, adubos, rações, mão-de-obra e outros, “pode até, no limite, dar prejuízo”.
Aludindo ainda à exclusão da carne de borrego nos produtos que passam a beneficiar de 0% do Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), Diogo Vasconcelos reconhece que as previsões para a venda de animais não são as melhores.
“Quanto muito, vamos vender menos, porque, para já, o borrego não entrou no IVA zero. Portanto, logo aí, é uma desvantagem competitiva em relação à carne de vaca, de porco e de frango”, lamenta.
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