Centenas de pessoas concentraram-se em frente à catedral St. Mary, num protesto convocado por um grupo de defesa dos direitos da comunidade homossexual, gritando: “Pell, vá para o inferno”.
Familiares e vítimas de abusos sexuais a menores, que na quarta-feira amarraram centenas de fitas nas grades em redor da catedral, juntaram-se ao protesto com cartazes nos quais se podia ler: “Esqueçam Pell, lembrem-se das crianças”.
A polícia australiana tinha recorrido à justiça para tentar proibir o protesto, com o vice-comissário David Hudson a sublinhar que “uma série de aspetos” da marcha representavam “um risco para a segurança pública”.
Os cânticos dos manifestantes impediram que os paroquianos reunidos no pátio da catedral pudessem ver e ouvir a missa celebrada em memória de George Pell, transmitida em ecrãs, levando a confrontos verbais entre os dois grupos.
A cerimónia fúnebre teve centenas de fiéis presentes, incluindo o antigo primeiro-ministro conservador John Howard e o líder da oposição Peter Dutton, embora o atual chefe do Governo australiano, o trabalhista Anthony Albanese, não tenha estado presente.
Na homília, o arcebispo de Sydney, Anthony Fisher, disse que “as calúnias dos inimigos eram infundadas e a prisão injusta, e a história lembrará [George Pell] (…) pela bravura”.
Pell, que morreu a 10 de janeiro em Roma aos 81 anos, desempenhava funções de secretário para a Economia, a terceira figura mais importante do Estado do Vaticano, quando em 2017 foi formalmente acusado de cinco agressões sexuais a dois menores, nos anos 1990.
Considerado culpado em dezembro de 2018, Pell foi condenado a seis anos de cadeia, pelos atos cometidos na igreja de St. Patrick quando era arcebispo de Melbourne, sendo a sentença confirmada em agosto de 2019.
Ao fim de 404 dias na prisão, Pell saiu em liberdade em abril de 2020, quando o Tribunal Superior da Austrália, máxima instância judicial do país, reverteu a sentença.
Os advogados representantes da acusação, no processo a decorrer na Austrália por danos psicológicos e alegados abusos sexuais, dos quais o cardeal foi absolvido, disseram que vão manter os processos contra a Igreja Católica.
Pell declarou-se sempre inocente, mas admitiu não ter feito o suficiente para proteger as vítimas de abusos sexuais por parte de clérigos australianos.
Uma comissão governamental que estudou denúncias de pedofilia dentro de instituições australianas recebeu cerca de 4.500 denúncias contra mais de 1.800 religiosos por abusos sexuais cometidos no país entre 1985 e 2015 e determinou, em 2017, que Pell “estava ciente” do problema na Igreja.
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