"Acima de tudo, estes casos traduzem algo que não é anormal, nem tem uma tradução diferente em 40 anos de democracia. O que existe é uma cobertura mediática muito intensa. Obviamente, há um contexto eleitoral que aguça a procura de casos similares. Se verificarmos, nas muitas centenas, nalguns casos milhares, de nomeações ou exercícios de cargos políticos em Portugal e noutros países, aquilo que registamos é meia dúzia de casos que estão longe de aquilo que alguns comentadores descreveram como epidemia ou problema fora de controlo", disse.
Segundo foi noticiado, a mulher de Pedro Delgado Alves, Mafalda Serrasqueiro, filha do ex-deputado socialista Fernando Serrasqueiro, é desde outubro chefe de gabinete do secretário de Estado Adjunto e da Modernização Administrativa, Luís Goes Pinheiro.
Outra nomeação que foi noticiada foi a recente colocação da mulher do ministro das Infraestruturas e Habitação, Ana Catarina Gamboa, no gabinete do novo secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro.
Pedro Delgado Alves, vice-presidente da bancada socialista, que falava aos jornalistas após a reunião semanal do grupo parlamentar do PS, na Assembleia da República, em Lisboa, criticou o "empolamento", a "vontade de querer capitalizar politicamente" e a "distorção da realidade" sobre o assunto na opinião pública.
"São realidades que acontecem. Todas as pessoas têm as suas responsabilidades individuais, desempenham funções, são ou não qualificadas para os cargos e há forma de escrutiná-lo. Todos os registos de interesses dos deputados identificam até os nomes dos seus cônjuges ou unidos de facto, precisamente para permitir esse controlo. Todas as publicações de nomeações de qualquer responsável em qualquer local estão em Diário da República e permitem a qualquer cidadão aferir se as pessoas têm a qualificação para o efeito", afirmou.
Para Delgado Aves, este é o "exercício que deve ser feito em democracia, respeitando plenamente a vontade de todos os cidadãos de serem esclarecidos, mas não deixando de ter em conta que as pessoas têm direito ao exercício de funções públicas eletivas, nalguns casos, de responsabilidade e até confiança política, noutros”.
“É o funcionamento normal de uma democracia", sublinhou.
O primeiro-ministro, António Costa, concordou hoje com o Presidente da República quando disse que "nada mudou" desde a formação inicial do Governo, considerando que "não há qualquer novidade" quanto aos casos de relações familiares entre membros do executivo, numa declaração à Lusa depois de o líder parlamentar do PSD, Fernando Negrão, ter exigido "uma palavra aos portugueses" sobre os vários casos.
A polémica sobre as relações familiares governativas subiu de tom nos últimos dias, com críticas de PSD, CDS-PP e até do BE. Além das ligações diretas familiares no executivo já há muito conhecidas - Ana Paula Vitorino e Eduardo Cabrita, que são casados, e de José e Mariana Vieira da Silva, pai e filha - vieram a público vários casos de nomeações de familiares de ministros e secretários de Estado do Governo para gabinetes de governantes e altos cargos públicos.
Ainda sobre a reunião dos deputados socialistas, Pedro delgado Alves congratulou-se com o balanço positivo dos trabalhos "muito produtivos" da comissão parlamentar para a transparência, com uma "reforma profunda", nomeadamente em matérias como a regulação do lóbi, as obrigações declarativas de rendimentos e património dos titulares de cargos políticos e o regime de impedimentos dos deputados, entre outros assuntos.
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