Na sua última participação no programa de debate na SIC-Notícias com o socialista António Vitorino, o antigo primeiro-ministro falou dos incêndios que deflagraram no domingo e provocaram pelo menos 41 mortos, deu "um suficiente menos" à proposta de Orçamento do Estado e, a propósito do seu adversário na corrida à liderança do PSD, defendeu que o partido precisa de mais do que "um líder para fazer contas".
Santana Lopes elogiou a comunicação ao país do Presidente da República - Marcelo Rebelo de Sousa "foi a voz da consciência nacional" - e considerou que as declarações iniciais do primeiro-ministro, António Costa, sobre este assunto, na madrugada de segunda-feira, "não foram um momento feliz".
"Tem sido dito que a senhora ministra da Administração Interna sair não é solução. E ficar, será que é solução? Eu penso que já não", disse, defendendo que quando "tragédias como esta" acontecem as responsabilidades "caem em cima dos responsáveis políticos".
"O país sente-se de algum modo incomodado, para não dizer insultado, se as coisas continuarem como estão", afirmou, elegendo o combate ao flagelo dos incêndios como uma das matérias de consenso interpartidário.
Santana Lopes considerou que foi "um erro político manifesto" o não prolongamento da fase Charlie, a mais crítica de combate aos incêndios, e disse entender a moção de censura do CDS-PP, embora defendendo que o PSD tem de ter outra ponderação, até pela fase de disputa de liderança que atravessa.
"O Governo merece de facto censura política, se se deve traduzir ou não numa moção de censura é outra questão", disse, defendendo a figura da moção de censura construtiva, como existe noutros países, e que não provoca a queda do Governo.
Santana Lopes não se quis alongar sobre a acusação, revelada na semana passada, no âmbito da operação Marquês, dizendo apenas que "é muito desagradável" ver um antigo primeiro-ministro acusado por matérias como corrupção.
"É grave para o regime", disse.
Questionado sobre a proposta de Orçamento do Estado apresentado na sexta-feira, o candidato à liderança do PSD afirmou que lhe dá "uma nota positiva", pela consolidação orçamental, mas apenas um "suficiente menos, quando o país precisava de um orçamento bom ou muito bom".
Santana Lopes apontou vários sinais errados no documento, considerando que aposta pouco na atração do investimento estrangeiro e sobrecarrega os trabalhadores independentes.
"Por causa da satisfação aos parceiros da coligação estamos a prejudicar as possibilidades de continuar a crescer"l, lamentou, dizendo que "os trabalhadores portugueses ganham mais com crescimento da economia e com o aumento do investimento do que com a mera devolução de alguns euros".
Santana Lopes justificou a marcação da apresentação da sua candidatura para Santarém, no domingo, por ser "um cruzamento estratégico de várias vias de todo o país" e por ser uma terra de "aposta no futuro", com um autarca jovem, e que valoriza a agricultura.
Questionado sobre as diferenças em relação ao outro candidato anunciado, Rui Rio, o antigo primeiro-ministro disse que elas serão expostas "serena e calmamente" e manifestou-se disponível para debates organizados pelos órgãos de comunicação social.
"Algumas matérias é importante falar delas, como o que aconteceu em 2013, no auge do Governo de Passos Coelho: ouvi Rui Rio dizer, numa nota de humor, que nunca criticou o Governo de Pedro Passos Coelho", afirmou, contrapondo com intervenções do antigo autarca, nessa altura, em palcos como a Associação 25 de Abril ou a Aula Magna.
Santana Lopes defendeu que, mais do que nunca, o PSD precisa de uma liderança "não crispada".
"O PPD/PSD não pode ter um líder para fazer contas, tem de saber fazer contas, mas tem de saber que a sua primeira tabuada é o que os portugueses pensam e o que os portugueses passam", defendeu.
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