Ana, 30 anos, técnica de turismo, começou a fazer naturismo há dois anos por imperativo do destino. Estava desempregada e o trabalho que encontrou foi num parque naturista no Alentejo.
“O trabalho era vestida, mas à medida que se aproximava o verão as pessoas começaram a andar mais despidas e percebi que estavam sempre muito alegres, uma alegria que também queria para a minha vida”, contou à agência Lusa.
Decidiu experimentar, até porque para usufruir dos espaços tinha de estar sem roupa. Depois levou o marido e a filha e hoje fazem parte da comunidade naturista.
Os pais, confessa, também têm alguma curiosidade, mas “já têm alguma idade”. Considera o naturismo “uma prática muito agradável”, que ajuda a lidar com as inseguranças.
“O meu ambiente favorito é o campismo, até pela segurança para quem tem crianças. É um espaço fechado, quem entra tem de se registar”, disse.
Ana Silva trabalhou apenas uma temporada no parque e tem hoje outra atividade no setor do turismo, mas defende que existe mercado em Portugal para estes espaços, muito procurados por franceses, holandeses e britânicos, além de alguns espanhóis, pela proximidade geográfica.
“Existem alguns espaços noutros pontos do país, mas podia haver mais. Só que é preciso um grande investimento, num espaço pequeno e há muita burocracia”, afirmou.
Apesar da experiência positiva reconhece que o naturismo não é para todos: “Há pessoas que gostam de andar nuas em casa e aí facilmente vão gostar, mas também há pessoas que nem em casa se sentem bem sem roupa. Não é para essas pessoas”.
Rogério Senhorinho, cirurgião, começou a praticar naturismo há 15 anos, em Portugal, mas também em Espanha, e admite que no país há ainda "um grande défice de espaços", sejam praias ou unidades hoteleiras.
"Em Espanha não há praias oficiais, pode praticar-se em qualquer praia. Cá não dá contraordenação, mas normalmente há uma abordagem da Polícia Marítima, se houver uma queixa", conta.
Escolheu o naturismo pela liberdade e pelo bem-estar, que, afirma, não consegue sentir de outra forma: "Quando voltamos a vestir o fato de banho parece que está ali alguma coisa a mais, a roupa fica molhada, incomoda".
Estima também outro fator - "Quando estamos sem roupa somos todos iguais, em termos de classe social. Ninguém está a reparar que marca se está a usar".
Naturistas de várias partes do mundo reúnem-se em congresso de quinta-feira a domingo na Costa da Caparica, Almada, o único concelho do país onde existem duas praias oficiais para a prática, num total de oito a nível nacional, de acordo com dados da Federação Portuguesa de Naturismo.
Estima-se que em Portugal existam cerca de 10.000 adeptos de naturismo.
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