Integrado nas comemorações do centenário do nascimento do antigo primeiro-ministro e Presidente da República, o ciclo de cinema Mário Soares – Um Homem de Cultura decorre entre quinta-feira e sábado no Centro de Artes e Espetáculos (CAE) e no Quartel da Imagem da Figueira da Foz, no distrito de Coimbra, com curadoria de Mário Barroso e apresentação de Abílio Hernández em todas as sessões.

A programação começa na quinta-feira, pelas 21:30, no auditório João César Monteiro do CAE, com a exibição de “A minha noite em casa de Maud”, de Éric Rohmer (1969).

Segue na sexta-feira, no mesmo local e à mesma hora, com “O Acossado” (1960), de Jean-Luc Godard, obra-prima do cinema francês da Nouvelle Vague, com Jean-Paul Belmondo no principal papel.

No sábado, no Quartel da Imagem, às 15:00, é exibida a película “Beijos Roubados” (realizada por François Truffaut, em 1968) e às 18:00, de novo no auditório João César Monteiro, o ciclo Mário Soares – Um Homem de Cultura termina com a exibição de “Mudar de Vida” (1966), de Paulo Rocha, interpretado por Maria Barroso.

Embora a razão da escolha destes quatro filmes em específico esteja por explicar – a agência Lusa não conseguiu ouvir o curador do ciclo, Mário Barroso, ausente em Paris – o professor universitário e escritor Abílio Hernández, que terá a seu cargo os comentários das obras cinematográficas, realçou a sua importância dentro da chamada Nouvelle Vague francesa de finais da década de 1950 e década de 1960, que se estendeu, depois, ao resto da Europa e América do Sul.

“‘O Acossado’ é um filme-emblema dessa nova vaga francesa e o realizador também. Já ‘A Minha Noite em Casa de Maud’ é lateral, é de um realizador que sempre esteve um pouco à margem da atividade dos seus companheiros, o Eric Rohmer sempre foi um homem um pouco isolado”, explicou.

Rohmer, segundo Abílio Hernández, era católico, o que o separava dos seus companheiros da nova vaga, e essa condição, adiantou, faz-se notar neste filme (considerado um conto erótico-filosófico), designadamente na luta da personagem principal, interpretada por Jean-Louis Trintignant, “entre o desejo e o dever, a ideia do pecado”.

Também conhecedor e especialista em cinema, Abílio Hernández destacou ainda “Mudar de Vida” como um filme charneira do cinema novo português, da autoria de Paulo Rocha, “um dos seus principais realizadores”.

Sobre a protagonista de “Mudar de Vida” – Maria Barroso, mulher de Mário Soares – Abílio Hernández lembrou que foi atriz “sobretudo de teatro”, recordando uma sua apresentação numa peça teatral, em Coimbra, no teatro Avenida, na década de 1960.

“O Avenida estava completamente cheio e, naquela altura, antes das obras, tinha uma lotação perto das mil pessoas, era uma sala extraordinária. E lembro-me dessa sessão, não apenas pela Maria Barroso, mas também por estarem dezenas de agentes da PIDE”, frisou.

“O espetáculo tinha passado pela censura, mas o facto é que a Maria Barroso era uma figura proeminente da oposição democrática ao regime e aquela era uma sessão especial”, notou o professor catedrático da Universidade de Coimbra.

Voltando ao cinema, o apresentador “com todo o gosto” da iniciativa dedicada a Mário Soares, considerou o conjunto dos quatro filmes como “um excelente ciclo”, embora tenha admitido desconhecer a eventual condição de cinéfilo do homenageado.

“A verdade é que ele passou boa parte do seu exílio em Paris. E Paris estava, justamente, no centro desta nova vaga, foi durante muitos anos a capital cultural do mundo”, observou Abílio Hernández.

O ciclo de cinema Mário Soares – Um Homem de Cultura tem entradas gratuitas, mediante levantamento dos ingressos na bilheteira do CAE da Figueira da Foz.