A morte do magnata da tecnologia Mike Lynch foi confirmada esta quinta-feira, na sequência do naufrágio do seu iate ao largo da Sicília, em Itália. Como conta a Associated Press, o falecimento do também conhecido como “Bill Gates britânico” aconteceu numa altura em que Lynch tentava ultrapassar um fiasco em Silicon Valley que tinha manchado o seu legado como ícone da criatividade britânica.
Aos 59 anos, Lynch viu as luzes da ribalta quando vendeu a Autonomy, uma empresa de software que fundou em 1996, à Hewlett-Packard (HP) por 11 mil milhões de dólares (cerca de 9,9 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual) em 2011. A venda rendeu-lhe 800 milhões de dólares e consolidou a sua posição como uma das pessoas mais ricas do Reino Unido. Mas nem tudo foi um mar de rosas: um ano depois, o negócio deu problemas quando a HP alegou que algo não estava certo com as contas da Autonomy e acusou Mike Lynch e a sua equipa de terem inflacionado os números, de forma a sobrevalorizar o valor da empresa. No mesmo ano, a HP reconheceu perdas de 8,8 mil milhões de dólares (7,9 mil milhões de euros) por causa deste negócio. O magnata rejeitou sempre as acusações da Hewlett-Packard, argumentando que estava a ser vítima de uma poderosa empresa norte-americana que se tinha arrependido da compra que fez.
Certo é que esta batalha legal durou mais de uma década e custou 30 milhões de dólares (27,1 milhões de euros) aos cofres de Mike Lynch. O caso teve o seu desfecho em junho passado, quando o magnata foi absolvido pela Justiça dos Estados Unidos das acusações de fraude de que era alvo. Numa entrevista ao jornal The Times, o britânico recordou esse momento e acrescentou que "quando se ouve essa resposta, saltamos de universo. Se isto tivesse corrido mal, teria sido o fim da vida como a conheci, em todos os sentidos”. Depois do veredicto, o milionário só tinha um desejo: regressar ao Reino Unido para estar próximo da família.
A viagem no Bayesian
Semanas depois de ser absolvido das acusações de fraude pela Justiça norte-americana, Lynch aproveitou a viagem em Itália a bordo do iate Bayesian para comemorar a decisão dos tribunais. O nome do veleiro, como conta o Observador, tinha significado para o milionário porque a sua tese de doutoramento e o software que resultou na sua ascensão no mundo tecnológico envolviam um método estatístico conhecido como inferência Bayesiana, baseado numa teoria do século XVIII, que ajuda os analistas a prever resultados com maior fiabilidade. Mais: o navio, com 56 metros de comprimento, 543 toneladas e um mastro de 72 metros era dado como “inafundável” pelo CEO da empresa que construiu a embarcação, já que os barcos à vela, como o Bayesian, "são conhecidos por serem os mais seguros do mundo", afirmou à Sky News Giovanni Constantino, CEO do The Italian Sea Group.
Mas os últimos dias trouxeram uma história diferente. A bordo do iate de luxo, avaliado em 32 milhões de euros, seguiam 22 pessoas: 12 passageiros e 10 tripulantes. Na madrugada desta segunda-feira, o veleiro estava ancorado no porto de Porticello quando foi atingido por uma tempestade. Segundo as autoridades italianas, uma grande quantidade de água terá entrado no iate durante a tempestade num espaço de tempo muito curto, o que fez com que o casco se inclinasse e a embarcação se afundasse em poucos minutos. Das 22 pessoas que seguiam na embarcação, sete morreram.
O percurso de Mike Lynch
O percurso de Mike Lynch no mundo da tecnologia começou muito antes da Autonomy. Nascido em 1965, Lynch cresceu em Essex, Inglaterra, e desde cedo demonstrou talento para a matemática e a ciência. Frequentou a Universidade de Cambridge, onde fez um doutoramento em Matemática Computacional, especializando-se em processamento de sinais e comunicações.
Em 1991 cofundou a Cambridge Neurodynamics, focada em tecnologia de reconhecimento de padrões. A experiência serviu como trampolim para a próxima grande empresa: a Autonomy.
Fundada em 1996, a Autonomy rapidamente se tornou uma das empresas de software mais bem-sucedidas do Reino Unido. A empresa desenvolveu tecnologia que permitia às organizações processar e compreender grandes volumes de informação não estruturada, como e-mails, mensagens de voz e vídeos. Este avanço tecnológico valeu a Lynch o reconhecimento como um dos empresários mais inovadores da Europa.
O sucesso da Autonomy não passou despercebido e, em 2006, Lynch foi condecorado com a Ordem do Império Britânico. A reputação do magnata continuou a crescer, ao ponto de se tornar uma figura respeitada tanto no Reino Unido como em Silicon Valley.
Depois da venda da Autonomy à HP e os problemas legais que se seguiram, Lynch não ficou parado e continuou a investir em startups tecnológicas e a contribuir para o ecossistema de inovação britânico. Exemplo disso é o ano de 2013, em que fundou a Invoke Capital, uma empresa de investimento focada em tecnologias avançadas e Inteligência Artificial.
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