“Isto é quase uma não notícia, o Parlamento [Europeu] já tinha chumbado [a proposta]. Como se o problema estivesse aqui”, afirmou Pedro Santos, da direção da CNA, em declarações à agência Lusa.
Para a confederação, “colocar este suposto recuo da Comissão como uma forma de ir ao encontro das reivindicações dos agricultores está muito longe de resolver o problema”: “O problema fulcral tem a ver com questões de rendimento e com a questão profunda da Política Agrícola Comum [PAC]. Enquanto não se atacar isso, estas coisas não são mais do que uma tentativa de atirar areia para os olhos de agricultores”, sustenta.
Garantindo que os agricultores “são os primeiros interessados a produzirem alimentos de qualidade, seguros e com menor impacto em termos ambientais”, a CNA critica que se “fale muito” em sustentabilidade ambiental na produção primária e “se esqueça” essa mesma sustentabilidade ao nível da distribuição e da comercialização.
“Podemos, de facto, ter normas ambientais e formas de produzir mais amigas do ambiente, mas depois importamos coisas do outro lado do mundo, sabe-se lá como e com que impacto ao nível do transporte”, enfatiza Pedro Santos.
Asseverando que “os agricultores não são inimigos do ambiente, antes pelo contrário, são os primeiros interessados, porque precisam dele para viverem e para executarem a sua atividade”, a CNA garante: “Esta decisão [da Comissão Europeia] não altera um milímetro daquilo que já tínhamos em termos de perspetivas e daquilo que é a necessidade de alteração da PAC para resolver problemas. E não é por aqui”.
A presidente da Comissão Europeia anunciou hoje que vai retirar a proposta da instituição visando reduzir para metade o uso de pesticidas na agricultura até 2030, parte central da legislação ambiental europeia e que cai após protestos dos agricultores.
“A Comissão propôs a DUS [Diretiva Utilização Sustentável dos Pesticidas] com o objetivo meritório de reduzir os riscos dos produtos fitofarmacêuticos químicos, mas a proposta tornou-se um símbolo de polarização [pois] foi rejeitada pelo Parlamento Europeu e também no Conselho já não se registam progressos, pelo que vou propor ao colégio que retire esta proposta”, anunciou Ursula von der Leyen.
Intervindo num debate na sessão plenária do Parlamento Europeu, na cidade francesa de Estrasburgo, dedicado às conclusões da cimeira extraordinária da semana passada, que foi marcada por intensos protestos nos agricultores a cerca de 800 metros do local, a líder do executivo comunitário salientou que “a proteção da natureza só pode ser bem-sucedida através de uma abordagem ascendente e baseada em incentivos”.
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