João Pedro Matos Fernandes falava à Agência Lusa no final de um debate que promoveu no Ministério sobre o Acordo de Paris, o entendimento sobre o clima assinado por praticamente todos os países do mundo faz no sábado cinco anos.
Hoje em Bruxelas o Conselho Europeu chegou a acordo para a redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) em 55% até 2030, em relação a 1990, forma de impedir o aquecimento global e as alterações climáticas. O Parlamento Europeu propõe uma redução de 60%.
A propósito do acordo entre os líderes europeus, o ministro salientou a importância do alinhamento de estratégias para que toda a Europa seja neutra em carbono (não produzir mais do que aquilo que pode fazer sumir) em 2050.
“Este era um compromisso português, mas não era um compromisso europeu”, disse Matos Fernandes, salientando que vai acontecer na presidência portuguesa, no primeiro semestre do próximo ano, a negociação com o Parlamento Europeu para aprovar em definitivo a lei.
O ministro lembrou que ainda há meia dúzia de anos muitos países europeus consideravam impossível reduzir as emissões de GEE em 40% até 2030, a anterior meta, e disse que esta meta de 55% “vai mesmo fazer com que o mundo seja movido a combustíveis que não são fósseis dentro de muito poucos anos”.
E sobre a possibilidade de a meta se aproximar dos 60%, o ministro disse que “Portugal está muito confortável com qualquer uma das decisões”.
Portugal, presidente do Conselho, terá de gerir as sensibilidades nesta matéria de 27 países, com uns próximos da posição portuguesa e outros não, mas Matos Fernandes disse acreditar que existe uma base e vontade para negociar.
A decisão de hoje em Bruxelas e com o esperado regresso dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, disse o ministro, são boas notícias para os cinco anos do Acordo.
Mas no debate no Ministério o Ambiente nem todos foram tão otimistas. Sofia Santos, economista e especialista em financiamento climático, disse que as metas talvez não sejam suficientes para impedir o aquecimento global e que com os compromissos atuais as temperaturas aumentarão mais de três graus celsius até final do século.
“Os compromissos têm de ser mais fortes”, disse Sofia Santos, defendendo que mais do que a neutralidade carbónica o planeta devia ambicionar ser negativo em carbono. E os países, “tendo em conta a ciência”, têm 10 anos para acelerar as metas de redução de GEE, avisou.
Jorge Moreira da Silva, que foi ministro do Ambiente (PSD) imediatamente antes de João Pedro Matos Fernandes, e que esteve nas negociações que antecederam o Acordo de Paris, considerou o compromisso de hoje da União Europeia como “um momento extraordinário”.
Mas a Europa não está sozinha no mundo e o mundo está longe “do que é necessário”, porque as atuais ambições levam a um aquecimento de 3,2 graus e pode acontecer que os países “não cumpram o Acordo de Paris”, avisou.
Moreira da Silva falou da falta de verbas para mitigar os efeitos das alterações climáticas nos países mais pobres, disse que é preciso acabar com a ideia de esperar pelas cimeiras mundiais para se agir, e salientou que a atual crise mundial devido à pandemia de covid-19 é um impulso para fazer escolhas que aliem sustentabilidade e competitividade.
A propósito da crise deixou ainda outro dado, que reflete o seu pessimismo: os países do G20 (19 maiores economias e União Europeia) deram nos últimos seis meses 158 mil milhões de dólares para a área dos combustíveis fósseis, contra apenas 80 mil milhões para as tecnologias limpas.
Se Jorge Moreira da Silva lamenta que haja ainda uma grande aposta no carvão, e que há um grande fosso entre “o que é Paris e o que devia ser Paris”, o ministro do Ambiente e Ação Climática é mais otimista. E no debate de hoje disse mesmo que acredita que a neutralidade carbónica na Europa pode ser conseguida antes de 2050, reafirmando que o grande esforço tem de ser feito até 2030.
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