Elaborado pelo Observatório da Emigração, um centro de investigação do ISCTE -Instituto Universitário de Lisboa, o documento dá conta de uma “estabilização do volume da emigração portuguesa”, indicando que em 2019 terão saído de Portugal cerca de 80.000 portugueses, número semelhante ao ano anterior e ligeiramente inferior aos 85.000 que saíram em 2017.
O relatório, apresentado hoje durante uma cerimónia no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, destaca o aumento da emigração para o Reino Unido, “contrariando a tendência decrescente verificada desde 2015”.
Em 2019, o número de entradas de portugueses no Reino Unido totalizou 24.593, mais 30,3% do que em 2018, um aumento que “foi mais marcado do que no conjunto das entradas de migrantes no Reino Unido (+21%)”.
Os autores do relatório sublinham que “a evolução da emigração portuguesa acompanhou a tendência geral de inversão do decréscimo das entradas no Reino Unido em vésperas do ‘Brexit’”.
“Este crescimento, além de poder incluir alguns casos de regularização de situações de emigração anterior, dever-se-á provavelmente à perceção de que, depois do ‘Brexit’, poderá ser mais difícil emigrar para o Reino Unido”, lê-se no documento.
No ano passado, “as entradas de portugueses representaram 3,2% das entradas totais no Reino Unido, o que fez desta emigração a sétima maior para aquele país” que “continua a ser o principal país do mundo para onde mais portugueses emigram”.
No mesmo ano, o número de portugueses emigrados no Reino Unido totalizou 165.000, mais 17% do que em 2018. Em 2000, esse valor era de 34.000, o que representa um crescimento de 385% nesse período.
Apesar de os portugueses serem “uma minoria entre os nascidos no estrangeiro a residir no Reino Unido em 2019, representando apenas 1,7% do total”, no contexto da emigração portuguesa, este país é o terceiro do mundo onde residem mais portugueses emigrados.
O relatório hoje divulgado indica que, em 2019, o número de portugueses que adquiriu a nacionalidade britânica totalizou atingiu os 2.227 (mais 16.8% do que em 2018).
“Este aumento pode ser explicado pelo voto positivo na saída do Reino Unido da União Europeia (UE)”, apontam os autores do documento.
A Espanha foi o segundo país para onde emigraram mais portugueses no ano passado (10.155), ainda assim uma diminuição de 4,5% relativamente a 2018.
“A tendência de crescimento que se verificava desde 2014 foi interrompida em 2019, voltando o número de entradas de portugueses em Espanha a diminuir, embora o número de entradas totais de estrangeiros continue a aumentar (+14.9%)”.
No terceiro lugar das escolhas dos portugueses para emigrarem está a Suíça, com 8.443 entradas, menos 3.3% do que no ano anterior, sendo o sexto ano consecutivo em que a emigração para a Suíça diminuiu significativamente que atingiu o valor máximo em 2013. O relatório sublinha que desde 2001 que o número de portugueses entrados na Suíça não era tão baixo.
Para França – o país do mundo com o maior número de portugueses emigrados, devido à grande vaga de emigração dos anos 60/70 – emigraram cerca de 8.000 portugueses, seguindo-se a Alemanha, com 5.785. Ambos os Estados registaram uma diminuição de entradas de portugueses em relação ao ano anterior.
No caso da Alemanha, a diminuição da entrada de portugueses foi na ordem dos 19,7%, um valor que “vem confirmar a tendência de decréscimo nos últimos anos, comum à maior parte dos destinos da emigração portuguesa”.
A Holanda, com cerca de 2.400 entradas de portugueses por ano, tem registado um aumento contínuo de emigrantes portugueses nos últimos anos.
Na análise ao impacto dos fluxos de portugueses nos países de destino, os autores do relatório apuraram que estes continuam a ser bastante representativos no Luxemburgo, onde, entre os novos emigrantes, os portugueses foram no ano passado a segunda nacionalidade mais representada.
Estes valores confirmam que a emigração portuguesa se mantém “essencialmente realizada no interior do espaço europeu”, tendo em conta que, “dos 23 países de destino mais escolhidos pelos portugueses para emigrar, mais de metade (14) são europeus e de, entre os 10 principais países de destino da emigração portuguesa, apenas dois se localizam noutro continente: Angola e Moçambique”.
Fora da Europa, os principais países de destino da emigração portuguesa integram o espaço da CPLP: Angola (cerca de 2.000 em 2019) e Moçambique (1.000 em 2016).
A emigração portuguesa para Angola desceu significativamente desde 2015: -42% em 2016, -24% em 2017, -36% em 2018 e -11% em 2019.
“Provavelmente, os efeitos recessivos da crise dos preços do petróleo e suas consequências sobre os setores do mercado de trabalho para onde se dirigia a emigração portuguesa terão feito sentir-se em pleno a partir de 2016”, explicam os autores.
O relatório posiciona Angola como o nono país do mundo para onde mais portugueses emigram.
As entradas de portugueses no continente americano – Brasil e Estados Unidos – aumentaram em 2019.
No Brasil, a emigração portuguesa cresceu 5% e 11,7% em 2018 e 2019, respetivamente. “Este crescimento contraria a tendência de decréscimo das entradas de portugueses em território brasileiro que se registava desde 2014”.
“Apesar desta mudança, o número de portugueses entrados no Brasil está ainda muito longe do observado em 2013: 2.904, o valor mais alto do período em análise”.
Para os Estados Unidos emigraram no ano passado 940 portugueses, mais 5,7% do que em 2018.
No mesmo período, registou-se uma diminuição de entradas de portugueses em Macau, que totalizaram 115, menos 1,7% do que no ano anterior.
A informação disponibilizada neste relatório aponta ainda para a diminuição da percentagem de portugueses que deixaram Portugal com caráter permanente, superior a um ano.
Em 2019, “do total de portugueses que saíram do país, apenas 37% o fizeram com caráter permanente, sendo, pela primeira vez desde 2011, menos de 30 mil pessoas”. Em 2013, a percentagem de saídas permanentes foi de 42%, correspondendo a mais de 53.000 dos 128.000 nacionais que deixaram Portugal nesse ano.
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