Numa declaração proferida esta tarde no número 10 de Downing Street, o primeiro-ministro prometeu que será feito “tudo o que for necessário para levar estes bandidos à justiça”, ao dirigir-se à nação sobre a violência em curso em várias partes do país.
Segundo a AP, a polícia da cidade de Rotherham, no norte de Inglaterra, lutou para conter uma multidão de manifestantes de extrema-direita que tentavam invadir um hotel que albergava requerentes de asilo.
Antes de controlar o motim, os polícias, munidos com escudos, enfrentaram uma chuva de objetos lançados contra si, incluindo pedaços de madeira, cadeiras e extintores de incêndio, enquanto tentavam impedir que os manifestantes, muitos dos quais usavam máscaras, entrassem no Holiday Inn Express.
Um pequeno incêndio num contentor do lixo foi também visível, enquanto as janelas do hotel foram partidas.
A onda de tumultos atingiu o Reino Unido, após um ataque à facada numa aula de dança, na semana passada, no norte de Inglaterra, que vitimou mortalmente três crianças e deixou vários feridos.
Noutros locais do país o ambiente está também particularmente tenso, como na cidade de Middlesborough, no nordeste do país, onde um grupo de manifestantes caminhou por uma zona residencial partindo vidros de casas e carros.
Quando um residente lhe perguntou porque estavam a partir janelas, um homem respondeu: “Porque somos ingleses”.
No sábado, manifestantes de extrema-direita enfrentaram ativistas antirracismo em todo o Reino Unido, com cenas violentas a terem lugar em locais que vão de Belfast, capital da Irlanda do Norte, a Liverpool, no noroeste de Inglaterra, e Bristol, no oeste.
A polícia fez cerca de 100 detenções, mas é provável que haja mais, à medida que os agentes analisam imagens de câmaras de segurança e de câmaras usadas no corpo (‘bodycam’), assim como publicações nas redes sociais.
A violência que tomou conta do país nos últimos dias eclodiu na sequência do ataque de segunda-feira, em Southport, que resultou na detenção de um jovem de 17 anos.
Os falsos rumores de que o suspeito era muçulmano e imigrante espalharam-se ‘online’, alimentando a raiva entre os apoiantes da extrema-direita.
Os suspeitos com menos de 18 anos não são normalmente identificados no Reino Unido, mas o juiz Andrew Menary ordenou que Axel Rudakubana, nascido no País de Gales, filho de pais ruandeses, fosse identificado, em parte para impedir a propagação de desinformação.
Rudakubana foi acusado de três crimes de homicídio e 10 crimes de tentativa de homicídio.
A polícia disse que muitas das ações do fim de semana foram organizadas ‘online’ por grupos obscuros de extrema-direita, que mobilizam apoio com frases como “basta”, “salvem os nossos filhos” e “parem os barcos”, aproveitando-se das preocupações sobre a dimensão da imigração no país, em particular as dezenas de milhares de migrantes que chegam em pequenos barcos vindos de França, através do Canal da Mancha.
Nigel Farage, que foi eleito para o parlamento em julho pela primeira vez como líder do Reform UK, foi também acusado por muitos de encorajar indiretamente o sentimento anti-imigração que tem sido evidente nos últimos dias.
Ao mesmo tempo que condenou a violência, criticou o Governo por atribuir a culpa a “alguns bandidos de extrema-direita” e por dizer que “a extrema-direita é uma reação ao medo […] partilhado por dezenas de milhões de pessoas”.
O novo primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, atribuiu a violência ao “ódio da extrema-direita” e prometeu acabar com o caos.
A ministra da Administração Interna, Diana Johnson, disse à BBC que “não há necessidade” de chamar o exército para ajudar a polícia nos seus esforços para enfrentar a violência.
Investigadores de fenómenos de desinformação no Reino Unido, ouvidos por jornais como The Guardian e The Independent, este fim de semana, atribuem o ressurgimento da violência de extrema-direita à decisão de permitir o regresso dos seus líderes às redes sociais, com manobras de desinformação.
O professor da Universidade de Bristol Stephan Lewandowski e o diretor do departamento de política do Instituto para o Diálogo Estratégico (Institute for Strategic Dialogue, ISD), Jacob Davey, coincidem na afirmação de que redes sociais como a X e o Facebook estão a alimentar o crescimento do extremismo ao permitirem o acesso das suas “figuras de proa” a uma plataforma para manobrar a violência a seu favor, através da mentira.
Para estes investigadores, a situação é agravada pela multiplicidade de “fontes desconhecidas e não confiáveis”, que tomaram o lugar tradicional de uma estrutura ou mesmo um movimento político imediatamente identificável.
Jacob Davey, em declarações ao jornal The Guardian, defendeu “uma cooperação muito maior entre os departamentos governamentais”, assim como “ligações entre autoridades locais e polícia”.
“Temos assistido a uma extrema-direita encorajada” pela ausência dessa cooperação, disse o investigador do ISD, recordando ataques recentes a centros de migrantes em Kirby e Dover. “Isto não surgiu do nada”, afirmou, numa referência à violência dos últimos dias.
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