“Entre o que está disponível no país agora, aquilo que está a chegar aos portos de Beirute e Tripoli e o que está para chegar nas próximas semanas, eu diria que temos reservas para dois ou três meses”, diz em entrevista à Lusa o ministro.

A 22 de outubro, o governo libanês anunciou que está a desenvolver um plano de contingência, caso o país mergulhe numa guerra, face às ameaças do grupo xiita libanês Hezbollah, financiado pelo Irão, de atacar Israel.

Algumas das medidas neste plano incluem assegurar infraestruturas chave como o aeroporto de Beirute, que foi bombardeado por Israel durante a última guerra com o Hezbollah em 2006, e também as autoestradas principais e os portos do país, que fecharam durante esse conflito.

Dado que o Líbano é quase unicamente dependente de importações que chegam na sua grande maioria por via marítima, uma das preocupações principais do governo é assegurar as reservas de bens essenciais para os próximos meses. O ministro da Economia, responsável por esta área, explica à Lusa as dimensões deste desafio.

“Em 2006, quando começou a guerra, a Síria estava aberta. Tínhamos importações e exportações a entrar e a sair do país, as pessoas estavam a deixar o Líbano através da Síria após o nosso aeroporto ser atingido. Mas agora o aeroporto [de Damasco] também está a ser bombardeado e está fechado”, diz Salam.

Portanto, diz o ministro, num cenário de guerra o Líbano poderá ficar isolado, e dependente das poucas reservas existentes no país, que foram altamente reduzidas após a explosão do porto de Beirute em 2020 e a consequente destruição dos silos onde estava “a única reserva nacional” de grãos e trigo.

Amin Salam diz que o governo está neste momento a tentar aumentar as importações, mas “os exportadores estão a pedir ao setor privado que pague à cabeça e estão a pedir liquidação em dinheiro para assegurar os pagamentos daquilo que estão a vender”. Dada a vasta crise económica que assola o Líbano desde 2019, o setor privado não tem a capacidade de adiantar estes pagamentos.

Os efeitos da guerra em Gaza e dos conflitos entre o Hezbollah e Israel a sul do Líbano já se fazem sentir na economia. As companhias de seguro para a indústria marítima já começaram a cobrar preços mais altos (“premium”) ou a retirar completamente a sua cobertura.

A decisão já causou um aumento de 2% a 3% nos preços, diz o ministro. No entanto, a maior preocupação entre o governo e o setor privado é que as companhias de transporte decidam, mesmo sem uma declaração oficial de guerra, que é demasiado arriscado continuar as exportações para o Líbano sem condições de segurança e que estanquem a entrega de bens essenciais ao país.

“Se houver um embargo marítimo, tudo o que estamos a discutir está em risco, porque tudo o que precisamos de importar vem do mar”, diz Salam.

Amin Salam diz que, apesar dos efeitos imediatos, o grande fator de risco é a já existente crise económica que continua a afetar a confiança de investidores e dos próprios libaneses na economia.

“Qualquer pessoa que tenha nem que seja um dólar no Líbano, ou está a gastá-lo no Líbano ou está a entrar arranjar maneira de enviá-lo para fora do Líbano”, diz Salam.

“Até pessoas que têm dinheiro num cofre em casa vão estar a pensar como é que podem tirar isto daqui porque alguém pode entrar dentro das suas casas. Portanto, o que está a acontecer não está a ajudar esta situação desafiante pré-existente”, disse à Lusa o ministro.