“As pessoas que procuram entrar na Europa encontram uma variedade de Europas: uma que se está a voltar para dentro, negativa, xenófoba, racista, na qual não há solidariedade para os que estão a chegar. Isto também inclui o desejo de negar ajuda aos que necessitam”, comentou hoje Kristiina Kumpula, responsável da Cruz Vermelha da Finlândia, na cerimónia de entrega do Prémio Norte-Sul, atribuído pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa.
No entanto, os imigrantes também encontram uma Europa que “procura soluções, quer ajudar os que chegam e cria um espaço para encontros genuínos”.
“Em diferentes cantos da Europa, milhares e milhares de pessoas querem defender a dignidade humana e os direitos humanos. Esta é uma mensagem importante para todos os decisores e pessoas com influência”, sustentou Kumpula.
Na sua intervenção, a secretária-geral da Cruz Vermelha finlandesa afirmou que os tempos atuais são caracterizados por “imprevisibilidade, polarização e disrupção”, com as populações a “perderem a confiança nas instituições tradicionais, na imprensa e na política”, mas, “pelo menos até agora, a ação voluntária e as organizações da sociedade civil merecem confiança”.
Contudo, advertiu, a assistência voluntária “não pode resolver problemas estruturais, pobreza ou desigualdade”, mas gera “esperança e coragem”.
Face à multiplicação de crises e conflitos, a necessidade de apoio é superior à capacidade de resposta da comunidade internacional, “que chega tarde, mesmo no melhor caso”, disse Kumpula.
Nestas situações, “a ajuda imediata surge sempre dos vizinhos do lado”, pelo que “o objetivo é melhorar a capacidade das populações para lidarem” com as dificuldades, acrescentou.
Kristiina Kumpula assinalou que atualmente, “ajudar exige uma bravura excecional”, recordando que só na Síria, 73 voluntários do Crescente Vermelho morreram quando prestavam apoio humanitário: “Isto é uma violação grave do entendimento universal da dignidade humana”.
Também o secretário-geral da Cruz Vermelha no Quénia, Abbas Gullet, recordou os “milhares de funcionários e voluntários que todos os dias arriscam as suas vidas para ajudar os que necessitam”.
O laureado realçou que, num “mundo interdependente”, problemas como a vulnerabilidade e abuso dos direitos humanos, “exigem uma abordagem comum”.
“O sofrimento não conhece fronteiras nem regiões. A ação necessária para acabar com o sofrimento exige cooperação entre culturas, povos, fronteiras e regiões. Este é o maior apelo atual”, comentou.
O Prémio Norte-Sul distingue todos os anos duas personalidades, uma do “Norte” e outra do “Sul”, pelo seu trabalho destacado no seu compromisso com os direitos humanos, democracia e Estado de direito, contribuindo para o diálogo norte-sul e para fomentar a solidariedade, a interdependência e a criação de parcerias.
Na cerimónia de hoje intervieram também o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa; a secretária-geral adjunta do Conselho da Europa, Gabriella Battaini-Dragoni; o presidente do comité executivo do Centro Norte-Sul, Javier Gil Catalina; o vice-presidente da Assembleia da República Jorge Lacão, em representação do presidente, Eduardo Ferro Rodrigues, ausente por motivos de saúde, e a deputada socialista Ana Catarina Mendes, presidente da delegação do parlamento português à Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa.
Entre os laureados com este prémio encontram-se, entre outros, o ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, a política francesa Simone Weil, a rainha Rania da Jordânia, a primeira mulher Presidente da Irlanda Mary Robinson, os ex-chefes de Estado portugueses Mário Soares e Jorge Sampaio, o antigo Presidente moçambicano Joaquim Chissano, o cantor irlandês Bob Geldof, o ex-Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva, a moçambicana Graça Machel e a jornalista tunisina Souhayr Belhassen.
O Centro Norte-Sul – como é normalmente designado o Centro Europeu para a Interdependência e Solidariedade Global – foi criado em 1989 e integra 21 membros (Argélia, Andorra, Azerbaijão, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Cabo Verde, Croácia, Chipre, Espanha, Grécia, Vaticano, Liechtenstein, Luxemburgo, Malta, Marrocos, Montenegro, Portugal, Roménia, San Marino, Sérvia e Tunísia). Podem fazer parte membros do Conselho da Europa, mas também não-membros.
Fundado a 05 de maio de 1949, o Conselho da Europa é a mais antiga instituição europeia em funcionamento, com 47 Estados-membros, incluindo todos os países da União Europeia.
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