“Não é exequível solicitar a uma Câmara Municipal, por email, 20 dias antes, a matrícula do autocarro e a necessidade do autocarro entrar no centro histórico. É algo completamente inconcebível”, disse à Lusa o presidente da ARP, Rui Pinto Lopes.
Para o representante de cerca de 200 empresas portuguesas de transportes de passageiros turísticos e não turísticos, cuja associação tem sede no Porto, “a Câmara dificilmente terá meios humanos para responder a todas as solicitações”.
“Achamos que é tapar o sol com uma peneira, um ‘fait-divers’ para dizer que é possível quando não vai ser possível”, considerou.
Hoje entrou em vigor um projeto-piloto de restrição ao trânsito de veículos turísticos, que durará um ano. Os operadores ficam sujeitos a um regime de autorização prévia por parte do município.
O representante associativo defende que, para o acesso a zonas de restrição, “qualquer regulação tem de ser feita através de um sistema automático, de uma ‘app'”, em que se possa, por exemplo, “mudar a matrícula no dia”.
Em resposta à Lusa, fonte da Câmara do Porto refere que, por ser um projeto-piloto, “há um processo evolutivo”, e “nas próximas semanas, no próximo mês”, haverá o desenvolvimento de uma ‘app’ para registo de entradas na zona de restrição.
“Como é óbvio, isso está no nosso horizonte”, tal como “a fiscalização de medidas através de outros recursos digitais”, referiu a mesma fonte, falando em “postos virtuais de fiscalização de entradas”.
À Lusa, Rui Pinto Lopes afirma que os horários em que há restrição total à circulação de veículos turísticos (08:00 às 10:00 e 17:00 às 20:00) são os em que “os turistas saem dos hotéis, de manhã, e a hora a que chegam aos hotéis”, considerando esta medida “um contrassenso”.
Fonte da Câmara do Porto afirma compreender “a posição das associações do setor”, e mostra abertura para, “face à evolução do processo, se porventura se considerar conveniente alterar ou aliviar os períodos de funcionamento”, fazê-lo.
Rui Pinto Lopes alerta que o transporte que poderia ser feito num autocarro passará a ser feito por “25 táxis ou TVDE”, mas a Câmara entende que “o turista, tal como os outros cidadãos, deve utilizar o transporte público”, sendo “uma questão de implementar e incutir esta necessidade”.
“O Turismo de Portugal, a Secretaria de Estado do Turismo, investiram ao longo da última década milhões em Portugal como destino turístico” e “depois uma câmara municipal deita por terra todo o trabalho que foi feito”, dramatizou o representante do setor.
Porém, vincou que os operadores de autocarros turísticos irão “até onde a polícia deixar, até onde a Câmara deixar”, respeitando os regulamentos.
“Nós só faremos aquilo que for legalmente possível. Agora, isto terá um impacto de peso negativo na cidade em termos da gestão de grupos”, considerou.
O parque de estacionamento da Alfândega e os terminais das Camélias e Asprela servirão como locais de estacionamento para os veículos pesados de passageiros não autorizados, segundo a autarquia.
O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, rejeitou hoje que a limitação de veículos turísticos no centro da cidade seja uma “inibição ao turismo”, mas sim uma medida para combater um “problema de mobilidade grande”.
Para o autarca, “o transporte público não pode ser só para os moradores, e o espaço do transporte público não pode ser canibalizado pelos operadores turísticos”.
Questionado sobre se não receia entrar numa ‘guerra’ com os operadores, Rui Moreira reconheceu que “as cidades são feitas de conflitos” entre interesses distintos.
A Polícia Municipal do Porto registou nove infrações na primeira manhã de restrições aos veículos turísticos no centro da cidade, disse hoje à Lusa fonte oficial da autarquia.
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