Em entrevista à TSF conduzida pelo jornalista Anselmo Crespo, que será transmitida a partir das 10:00, Rui Rio afirmou que "obviamente o mais provável" será o apoio do PSD a uma recandidatura do atual Presidente da República e só ainda não foi mais claro porque Marcelo Rebelo de Sousa não foi "absolutamente taxativo" sobre o assunto.
"No dia a seguir a apresentar a sua recandidatura, o PSD tem de tomar uma posição pública sobre essa recandidatura, até porque já estamos em junho e faltam pouco mais de seis meses", disse.
Questionado se, caso o presidente do Governo Regional da Madeira Miguel Albuquerque também seja candidato a Belém contra Marcelo (como admitiu), o PSD admite dar liberdade de voto nas presidenciais de janeiro do próximo ano, Rio praticamente afastou essa hipótese.
"Numa eleição tão importante como a Presidência da República, um partido tão importante como o PSD não ter posição e dar liberdade de voto, é muito difícil", considerou.
Já sobre a frase dita pelo primeiro-ministro, António Costa, ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa, de que esperava regressar com ele à Autoeuropa no próximo ano - e que foi interpretada como um apoio à sua recandidatura -, o líder do PSD admitiu que até pode nem ter sido premeditada, mas algo "que saiu" no momento, e negou qualquer incómodo.
"Como é que pode incomodar o PSD quando um militante seu recebe, em tão altas funções como Presidente da República, o apoio do nosso maior adversário? É até de certa forma honroso para o PSD", disse.
Já sobre as autárquicas, Rui Rio admitiu que a última palavra sobre a escolha dos candidatos a Lisboa e Porto será sua e até que já lhe passaram "nomes pela cabeça", mas considerou que anunciar candidaturas a mais de um ano do ato eleitoral seria "uma maratona".
Questionado se dará alguma orientação nacional contra coligações com o Chega, Rio respondeu negativamente, mas disse não antever nenhuma, até porque o partido "não tem sequer força local".
Sobre a subida de André Ventura nas sondagens - recentemente o Chega apareceu como terceira força política -, Rio disse não acreditar que possa ter esse peso na sociedade, embora admita que possa ir buscar votos sobretudo à abstenção.
Questionado se Ventura é "um político racista", o líder do PSD respondeu: "Posso estar enganado, mas penso que muito do que ele diz é mais por tática política do que por estar convencido do que está a dizer, o que é uma leitura benigna", afirmou.
Rio considerou que "não há em Portugal felizmente comparação" com o que se está a passar nos Estados Unidos, e classificou a morte de George Floyd como "um ato dantesco".
"Não há em Portugal felizmente comparação, o que aconteceu nos Estados Unidos é uma coisa bárbara, revolta qualquer cidadão absolutamente normal, ainda por cima numa imagem a que todo o mundo teve acesso", afirmou, referindo-se ao assassinato de um afro-americano de 46 anos, que morreu em 25 de maio, em Minneapolis (Minnesota), depois de um polícia branco lhe ter pressionado o pescoço com um joelho durante cerca de oito minutos numa operação de detenção.
Rio realçou o papel da comunicação social em casos como este e salientou que sempre defendeu que "a liberdade de imprensa é um pilar absolutamente nuclear em democracia", mas contrapôs que "quando manipula e desinforma faz o contrário, destrói a democracia".
O líder do PSD reiterou as críticas de compra antecipada de publicidade institucional por parte do Estado como forma de apoio aos media, dizendo até duvidar que seja apenas isso e que se vão somar à verba já paga "mais 15 milhões depois".
Questionado se entende que o Governo está a tentar "controlar" o setor, respondeu que "está pelo menos a tentar ser simpático" e considerou que a comunicação social até pode ser permeável a essa tentativa: "Acho que sim".
Rio defende país já vive em austeridade e quer “ajudar” no Orçamento Suplementar
O presidente do PSD defendeu que o país já vive em situação de austeridade há dois meses devido à pandemia de covid-19 e, sem se comprometer com sentido de voto, reiterou ter "vontade de ajudar" a viabilizar o Orçamento Suplementar.
Rui Rio foi questionado se teria gerido melhor do que o Governo a crise sanitária, mas recusou entrar nessa disputa.
"Há coisas que tenho a sensação que teria feito melhor, mas em boa verdade e honestidade tem alguém a certeza de que, se estivesse lá, teria feito melhor? Só um fanfarrão é que pode dizer uma coisa dessas", afirmou.
Sobre o Orçamento Suplementar que o Governo irá aprovar na terça-feira, o líder do PSD recusou comprometer-se com um sentido de voto antes de ver o documento: "Eu não sei se vou votar a favor, posso não votar a favor, até posso votar contra".
"O que estou a dizer de antemão é que não vou olhar para o orçamento com uma lupa a tentar pegar onde é que que está mal para justificar que estou contra. Vou pegar no orçamento com vontade de ajudar a que o combate à covid não seja estrangulado por razões de ordem orçamental dentro daquilo que o país pode fazer", afirmou.
Questionado se estará disponível para aprovar "medidas de austeridade", Rio contrapôs que "o país já vive em austeridade há dois meses".
"No tempo da 'troika', com cortes de 5% ou 10% era austeridade, aqui com mais de um milhão de portugueses com cortes de 33% não é austeridade? Infelizmente, o que estamos a viver desde há dois meses é austeridade", considerou.
Sobre a possibilidade de vir a aprovar medidas impopulares, Rio respondeu: "Tudo aquilo que eu entenda que é fundamental para o país, eu darei o meu apoio, não farei aquilo que é importante para mim e para o PSD, agora será o que eu entender, não o que o Governo entender", disse.
"Não cortar salários é desejável? É. Não cortar as reformas é desejável? Ainda mais, porque são pessoas mais indefesas", acrescentou, considerando que também a margem para aumentar impostos "está esgotada", porque o Governo nos últimos quatro anos os subiu "sem necessidade".
Sobre a possibilidade de a crise sanitária e económica vir a provocar uma crise política, Rio disse que "a normalidade é não existirem", mas não excluiu esse cenário.
"Depende, pode ser o PSD a provocá-la se entender que há razões, não serei eu a provocar no sentido de ter uma programação feita, não me movo dessa forma, mas pelo interesse do pais e o interesse do pais pode não ser provocar uma crise", disse.
Rio admitiu que a queda do PIB pode até ser "um bocadinho mais" do que os 7,5% previstos pelo Governo e defendeu que o 'lay-off' deve manter-se até final do ano com "afinações pontuais" - mas considerando "inevitável" que uma parte continue a ser suportada pelo trabalhador.
Na entrevista á TSF, o líder do PSD afirmou que as críticas recentes ao primeiro-ministro no debate quinzenal sobre António Costa Silva não se deveram à designação de um independente para aconselhar o Governo, mas ao que Rio diz ser uma contradição.
"O PSD foi crítico do primeiro-ministro que fez o que antes tinha criticado no Governo de Pedro Passos Coelho. O Governo escolhe quem muito bem entender para o aconselhar ou até para desenhar uma estratégia, não é da minha conta", disse, reiterando estar disponível para que António Costa Silva possa participar em reuniões com o PSD, desde que também estejam os "ministros adequados".
Rio deu como certa a saída em breve de Mário Centeno do Governo e, questionado se concorda com Carlos Costa que o atual ministro das Finanças seria um bom governador do Banco de Portugal, deu uma resposta crítica para o atual dirigente do banco central: "É muito difícil eu concorde com o dr. Carlos Costa seja no que for, embora lhe reconheça grandes capacidades de ordem técnica", disse.
Sobre a questão de fundo, admitiu que "não há nada que proíba Mário Centeno de ser governador do Banco de Portugal", mas "do ponto de vista político" aconselhou-o a "não fazer essa transição direta", dizendo que transmitirá essa posição quando for consultado pelo primeiro-ministro.
"O que está em causa não é só o governador, é a equipa toda, o que direi seguramente é que na nossa ótica preferíamos que fosse outra pessoa, e se calhar vai ser, não faço a mínima ideia", afirmou.
À TSF, o líder do PSD reiterou as críticas sobre a forma como o atual Governo reverteu a privatização da TAP, considerando que foi "o pior de dois mundos": "Entrou com 50% e manda zero".
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