“Conheço o rio há 50 e qualquer coisa anos. Sempre usufruí do rio tanto na pesca como no lazer”, contou à agência Lusa um dos fundadores do movimento “Juntos pelo Sorraia”, Alberto Santos.
A fauna e a flora deste rio, entre Coruche e Benavente, no distrito de Santarém, estão a ser afetadas por uma praga de jacintos de água, fenómeno que Alberto Santos relaciona com o abandono do Sorraia ao longos dos anos e com o “bloqueio do rio”.
Em 24 de julho foi construído um açude no rio Sorraia devido à necessidade de se criar uma represa com água doce porque a produção agrícola naquela zona estava em risco por as águas apresentarem um elevado nível de salinidade.
“Os jacintos que era suposto, com as marés, irem para o mar, começaram a ficar acumulados juntos a este dique que fizeram”, lamentou o membro do movimento cívico.
O açude foi, entretanto, desmantelado causando o arrastamento de uma parte destas plantas infestantes.
Os pescadores que vivem junto à margem do Sorraia, na vila de Porto Alto, no concelho de Benavente, partilham da opinião de Alberto Santos e sublinharam que esta praga tornou impraticável a navegação pelo rio.
As redes de pesca ficaram presas, dificultando o trabalho destes profissionais, que preferiram não se identificar, e que vincaram que têm passado grande parte do tempo a retirar os jacintos de água que ficaram agarrados.
Através de uma viagem de barco, a Lusa constatou que existem milhares destas plantas infestantes ao longo do rio, que cobrem quase toda a superfície do Sorraia e dificultam a travessia.
“Juntaram-se ali alguns quilómetros de jacintos. Foi uma massa enorme de jacintos que foi libertada [pelo desmantelamento do açude] sem qualquer tipo de controlo”, criticou Alberto Santos.
Apesar de considerar que o movimento “Juntos pelo Sorraia” também deve ser ouvido na tomada de decisões, Alberto Santos considera que o “que importa mesmo é que se arranje uma solução para o problema”, que não é apenas dos pescadores.
“Há zonas onde os jacintos já impossibilitam alguma captação de água para a agricultura”, vincou.
Questionados pela Lusa sobre qual seria a solução para este problema, os pescadores do Sorraia apontaram “uma barreira” que pudesse juntar as plantas numa das margens.
Já o membro do movimento cívico é a favor da retirada dos jacintos, mas diz que tem de ser mais regular: “Não é com limpezas pontuais que se resolve o problema. Tem de se ter um braço forte. O rio não pode ser deixado à sua sorte por dois, três ou quatro anos.”
O presidente da Câmara Municipal de Benavente, Carlos Coutinho (CDU), afirmou à Lusa que não se pode dizer que foi “um açude que potenciou” esta situação.
“Esta praga de jacintos não é nova, é uma situação que já está introduzida no país há algum tempo”, explicou, acrescentando, contudo, que agora é “de grande urgência”.
Carlos Coutinho salientou que “um pequeno foco de jacintos” consegue multiplicar-se em pouco tempo e, em duas semanas, o rio está “cheio de jacintos”.
Por essa razão, remover estas plantas não tem um prazo definido: “Seguramente irá levar semanas, meses, para conseguirmos fazer esta remoção”.
“Estaremos a falar seguramente, para termos uma ideia, de mais de um milhão de metros cúbicos de jacintos que estarão a cobrir o rio nesta altura”, explicitou o autarca.
De acordo com o Plano de Remoção do Jacinto de Água do Rio Sorraia, a que a agência Lusa teve acesso, um só exemplar consegue produzir entre 50 a 70 novos jacintos “em apenas um mês”.
Para o presidente da Câmara de Coruche, Francisco Oliveira (PS), o fenómeno “tem a ver com o clima de seca ou, pelo menos, de menos caudal”, e que “é propício ao desenvolvimento desta planta”.
A remoção dos jacintos deverá começar em 27 de agosto e a intervenção vai ser tutelada pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
“No imediato vai haver uma intervenção musculada para aquelas zonas que têm mais a propagação do jacinto de água”, disse o autarca socialista.
Para o efeito, o plano de remoção destas plantas prevê a utilização de uma ceifeira aquática, duas giratórias, duas embarcações “com um a dois técnicos para remover manualmente as plantas presas na vegetação” e duas máquinas retroescavadoras “para apoio na margem”.
Durante a intervenção também vão ser instaladas quatro “barreiras de contenção” destas plantas infestantes.
Reconhecendo as críticas apontadas pelo movimento “Juntos pelo Sorraia” em relação à periodicidade na remoção destas plantas, Francisco Oliveira referiu que “não se pode fazer uma intervenção pontual, à semelhança daquilo que se tem vindo a fazer nos anos anteriores”.
“O objetivo é que possamos usufruir e fruir do nosso rio sem que tenhamos este problema de nos confrontar com este manto verde que cobre o nosso rio Sorraia, numa extensão muito grande”, finalizou.
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