“O ‘fogo amigo’ matou”, afirmou Francisco Rodrigues dos Santos, numa declaração aos jornalistas, sem perguntas, depois de ter falado perante o Conselho Nacional do CDS-PP, e em que esteve ladeado pela sua direção.

O presidente do CDS-PP, que anunciou a sua demissão na noite eleitoral e já disse que não se recandidatará, deixou uma garantia sobre o seu futuro: “Não vou andar por aí, porque sempre estive aqui e vou continuar por aqui”, afirmou, dizendo que o partido poderá por vezes contar com o seu “recato” e outras “com a sua intervenção.

“O CDS só terá futuro se não repetir as vergonhas do passado. O CDS só sobreviverá caso recuse ser um partido de grupo, uma associação de egoístas que se comportam como se fossem donos do partido ou um salão de beleza para cuidar de egos”, avisou.

Rodrigues dos Santos, que deixou a sede do CDS-PP depois de falar aos conselheiros e aos jornalistas, deixou ainda outro ‘recado’ interno na sua dura intervenção.

“Ou aprendemos definitivamente a gostar do CDS ou os portugueses aprenderão a não gostar do CDS. E aí sim, desapareceremos e seremos substituídos por quem perfilhar os nossos valores e agarrar as nossas bandeiras”, alertou.

Rodrigues dos Santos deixou o Conselho Nacional menos de dez minutos depois de Nuno Melo (que já assumiu vontade de ser candidato à sucessão) ter falado aos jornalistas à entrada, tendo os dois coabitado pouco tempo na sala onde decorre a reunião.

“Da minha parte, quero garantir-vos que não farei ao meu sucessor o que me fizeram”, afirmou o ainda líder do CDS-PP, considerando que a sua demissão dá ao partido a oportunidade de “inaugurar um novo ciclo sem traumas”.

Na sua intervenção, o líder do CDS-PP considerou que as causas para o resultado do partido - que perdeu toda a representação parlamentar - “são profundas e têm um lastro de longos anos por trás que um dia alguém estudará” e lembrou que, quando assumiu a presidência, o partido estava falido, o país atravessou uma pandemia e ele próprio não esteve no parlamento.

Para Rodrigues dos Santos, “o CDS combateu-se e anulou-se a si mesmo, dividiu-se em vários CDS que se atacaram uns aos outros” e salientou que “o papel das oposições democráticas não é destruir o presidente”.

“Ser oposição não é pedir a cabeça do líder ao final de um ano de mandato; não é impedir, de forma premeditada e calculada que presidente do partido tenha oportunidade de se sentar no parlamento; não é fazer da bancada uma trincheira contra a direção do partido”, criticou.

O líder do CDS-PP criticou ainda os que “desaconselharam o voto no CDS” ou recomendaram aos eleitores que votem noutro partido, como fizeram António Pires de Lima e Adolfo Mesquita Nunes, que se desfiliaram já do partido.

Com ironia, Rodrigues dos Santos disse que neste Conselho Nacional estarão “mais militantes do partido, do que votantes do partido” nas últimas eleições.

“Considero que já estão a ser dados passos importantes. Fico genuinamente satisfeito ao assistir que nas últimas duas semanas regressaram as proclamações da união, da paz interna, da construção”, afirmou, ironizando que “de repente, gerou-se a convicção unânime” de que “O CDS é relevante, que conta e que não morreu”.

E voltou a alertar: “Ou estamos todos dentro do mesmo barco ou não estamos. O CDS não se salva sozinho e precisa de todos”.

O CDS-PP obteve 1,6% dos votos e, pela primeira vez desde o 25 de Abril de 1974, ficou sem representação parlamentar, depois de na última legislatura ter uma bancada de cinco deputados.

O Conselho Nacional de hoje vai analisar os resultados eleitorais e votar a proposta da direção para que o próximo congresso, que elegerá o sucessor de Rodrigues dos Santos, se realize em 02 e 03 de abril, ainda em local a definir.