Um dia antes de uma nova ronda de negociações entre a Ucrânia e a Rússia, as tropas russas intensificaram a sua ofensiva, visando Kiev, a capital do país, Kharkiv, segunda maior cidade, onde os bombardeamentos causaram pelo menos 18 mortos e dezenas de feridos, e cidades portuárias no sul.
As tropas ainda não conseguiram tomar a capital ucraniana, mas continuam a avançar.
Um ataque aéreo sobre a praça central de Kharkiv, cidade de 1,4 milhões de pessoas, perto da fronteira com a Rússia, atingiu a sede da administração regional, segundo o governador Oleg Sinegubov.
Pelo menos 10 pessoas morreram e mais de 20 ficaram feridas nessa explosão, de acordo com os serviços de emergência da Ucrânia, que deu conta de um outro ataque, a um edifício residencial, que deixou oito mortos e seis feridos.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, denunciou “um crime de guerra” em Kharkiv, e sublinhou que a defesa da capital é neste momento “a prioridade”. O Tribunal Internacional de Justiça já anunciou que vai realizar audições nos dias 7 e 8 de março no processo movido por Kiev, que acusa Moscovo de planear um genocídio na Ucrânia.
Um outro ataque russo, este contra uma torre de transmissão de televisão em Kiev, esta terça-feira, terá feito cinco mortos. Na sequência do mesmo, a transmissão de vários canais ficou suspensa.
O ataque deu-se depois de o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konashenkov, ter avisado que iria atacar as infraestruturas tecnológicas dos serviços de segurança ucranianos, SBU, pedindo aos civis que vivessem próximos desses alvos estratégicos para fugirem.
“Para impedir ciberataques contra a Rússia, serão realizados ataques com armas de alta precisão, em Kiev, contra as infraestruturas tecnológicas do SBU e o principal centro da Unidade de Operações Psicológicas. Nós apelamos aos cidadãos que vivem próximo dessas infraestruturas para abandonares as suas casas”, afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa russo.
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigú, citado pela agência Interfax, afirmou que a Rússia vai prosseguir a “operação militar especial” iniciada na Ucrânia na passada quinta-feira “até alcançar os seus objetivos”.
As forças do Presidente russo, Vladimir Putin, intensificaram também a ofensiva a outras cidades do país, incluindo nos portos estratégicos de Odesa e Mariupol, no sul.
Segundo a empresa norte-americana Maxar, imagens de satélite mostram um extenso comboio militar russo, ao longo de 64 quilómetros, a noroeste de Kiev. A coluna militar "estende-se dos arredores do aeroporto de Antonov, a cerca de 25 quilómetros do centro de Kiev, no sul, até aos arredores de Prybirsk no norte", anunciou a empresa.
Nos últimos dias, a fuga de Kiev e do país continua em larga escala e, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o último balanço dava conta de que quase 680 mil pessoas fugiram da Ucrânia desde a invasão militar russa.
Perante a escalada dos ataques, Volodymyr Zelensky pediu à União Europeia, por videoconferência numa sessão plenária extraordinária do Parlamento Europeu, que prove que está do lado da Ucrânia na luta pela sua sobrevivência e pela defesa da liberdade - palavras que lhe valeram uma ovação de pé, por um hemiciclo azul e amarelo, as cores da bandeira da Ucrânia.
“Sem vocês a Ucrânia fica sozinha. Provem que estão connosco, provem que não nos vão deixar sozinhos. E então a vida ganhará sobre a morte, e a luz vencerá as trevas”, disse Zelensky no final da intervenção.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, apoiou a atribuição à Ucrânia do estatuto de candidato à União Europeia, vincando querer "enfrentar o futuro" com o país e apoiando-o "na luta pela sobrevivência".
"Hoje, a UE e a Ucrânia estão mais próximas do que nunca", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, referindo-se ao desejo expresso por Zelensky de aderir ao bloco europeu. "Há ainda um longo caminho a percorrer", ressalvou, indicando que é preciso pôr fim à guerra primeiro e "falar sobre os próximos passos" a seguir.
O Parlamento Europeu adotou uma resolução sobre a agressão militar russa à Ucrânia com 637 votos a favor, 26 abstenções e apenas 13 votos contra – dois dos quais da delegação do PCP.
Já na Conferência de Desarmamento, Sergueï Lavrov ficou a falar "sozinho", depois de muitas das delegações, entre as quais da Ucrânia e dos países ocidentais, boicotarem a intervenção do ministro dos Negócios Estrangeiros russo. Os diplomatas abandonaram ostensivamente a sala no início do discurso de Lavrov, que foi gravado antecipadamente, uma vez que o ministro russo anulou a sua deslocação, invocando as “sanções anti-russas” que o proíbem de sobrevoar a União Europeia.
Por cá, o Conselho de Ministros aprovou um conjunto de medidas para simplificar o processo de proteção temporária para refugiados e foi anunciado que Portugal tem, à data de hoje, capacidade para o alojamento de 1.245 pessoas que estejam deslocadas da Ucrânia.
Depois de um dia em que se verificou uma intensificação da ofensiva russa, ao fim da tarde, o presidente da Ucrânia disse, em entrevista à CNN, que as negociações para o cessar-fogo só podem continuar se as forças russas "pararem com os bombardeamentos".
“Para podermos falar, não pode haver aviões a sobrevoar e bombardeamentos a acontecer. Há duas posições diferentes. Uma que quer fazer pressão, que não quer chegar a um acordo. Queremos que haja diálogo, mas, no mínimo, os bombardeamentos têm de parar”, afirmou Zelensky.
“Estamos prontos para falar de garantias de segurança para a Ucrânia, mas depende dos nossos parceiros. Se os nossos parceiros [Rússia] não estiverem dispostos a aceitar a Ucrânia na NATO, esses parceiros deveriam fornecer garantias de segurança comum à Ucrânia. O que significa termos a nossa integridade territorial, que as nossas fronteiras estão protegidas", salientou o presidente ucraniano.
Para esta quarta-feira, está marcada uma nova ronda de negociações entre a Ucrânia e a Rússia.
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