Os sobreviventes do escândalo do sangue contaminado no Reino Unido receberam pagamentos intermédios do governo britânico após uma batalha de 40 anos por indemnizações, mas milhares de pais e filhos das vítimas ainda não receberam nada, conta o The Guardian.

Até agora, cerca de 3 mil sobreviventes receberam pagamentos de 100 mil libras, após o governo ter sido informado de que as pessoas infetadas com HIV e hepatite C estavam a morrer ao ritmo de uma a cada quatro dias. O sangue contaminado administrado nos anos 70 e 80 a cerca de 6 mil pessoas já levou à morte de mais de 2.400.

Agora, o governo garantiu que tenciona fazer pagamentos aos que foram infetados, bem como às famílias enlutadas em Inglaterra até ao final de outubro. Os mesmos pagamentos serão efetuados na Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.

"Embora nada possa compensar a dor e sofrimento das pessoas afetadas por esta trágica injustiça, estamos a tomar medidas para fazer bem às vítimas e àqueles que perderam tragicamente os seus parceiros, assegurando-nos de que recebem estes pagamentos intermédios o mais rapidamente possível", afirmou o primeiro-ministro, Boris Johnson.

"Continuaremos a apoiar todos aqueles que foram afetados por esta terrível tragédia, e quero prestar pessoalmente homenagem a todos aqueles que lutaram tão determinadamente pela justiça", acrescentou ainda.

Os pagamentos intermédios foram recomendados por Sir Robert Francis como parte do seu relatório em março sobre como compensar as vítimas e as suas famílias, para ajudar os restantes sobreviventes a "resolver os seus assuntos antes de morrerem".

Todavia, tanto os sobreviventes como as suas famílias terão de esperar até à conclusão do atual inquérito sobre o sangue contaminado para a implementação de um esquema de compensação integral.

Richard Warwick, agora com 57 anos, foi infetado com HIV e hepatite C em tratamentos que lhe foram dados como aluno no Treloar College, uma escola especializada no cuidado de hemofílicos. Em 89 alunos infetados na escola, é um dos únicos 16 sobreviventes.

"Este é apenas o início do caminho para obter uma compensação significativa. É absolutamente vergonhoso que o governo tenha demorado tanto tempo a admitir que fizeram mal. E entristece-me profundamente que os pais que perderam os seus filhos, e os filhos que perderam os seus pais, não estejam incluídos no esquema de pagamento. É tão injusto", disse ao The Guardian.

"Aguentaram o máximo que puderam, simplesmente porque quanto mais pessoas morrerem, menos terão de pagar no final, pelo que o escândalo continua", acentuou.