"O ano de 2020 tem sido um dos mais difíceis: sem peregrinos e com uma diminuição drástica do fluxo de trabalho. Pela primeira vez, celebrámos o 12 e 13 de maio sem peregrinos e preparamos agora o 12 e 13 de outubro com um número extremamente reduzido", começou por lembrar o reitor do Santuário.

Referindo que "sem peregrinos perdemos receita", o Pe. Carlos Cabecinhas revelou que, no final de setembro, o Santuário de Fátima registava uma quebra de receitas de 50,6%, bem como uma quebra de 46,9% no que diz respeito aos donativos.

Neste sentido, o Santuário tem um "plano de reestruturação em marcha desde meados do ano", quando foi tomada "a consciência de que crise não seria passageira e que iria demorar mais tempo do que seria previsto".

Neste sentido, o reitor do Santuário frisou que ocorreram, até este momento, "14 acordos amigáveis de rescisão".

"Todos surgiram por iniciativa dos próprios trabalhadores", precisou, referindo que as conversas aconteceram por grupos "para que ninguém se sentisse diretamente pressionado".

A título de curiosidade, o Pe. Carlos Cabecinhas revelou que "vários dos que se desvincularam inscreveram-se como voluntários e vários deles estão a participar como acolhedores nesta peregrinação aniversária".

O reitor revelou ainda que "quatro funcionários do Santuário passaram à reforma", foram registadas "15 demissões por iniciativa própria e 18 não renovações de contrato a prazo, a termos certo, parte das quais de estudantes que trabalhavam com o Santuário a tempo parcial".

"Para evitarmos despedimentos, tivemos de equacionar ajustamentos e isto levou a que procurássemos soluções para salvaguarda da instituição, mas tendo sempre um horizonte de responsabilidade social", garantiu.

Também o bispo da diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto, recusou falar em despedimentos.

"Não houve nenhum plano para fazer despedimentos, houve um plano de reestruturação para uma gestão rigorosa em tempos de emergência", garantiu o cardeal aos jornalistas.

O reitor reconheceu ainda que são "tempos difíceis para todos" e que a falta de peregrinos afeta não só o Santuário, mas "toda a vida da cidade de Fátima e suas imediações".

"Temos procurado estar atentos às situações de carência e aumentámos em 60% os apoios sociais a pessoas e famílias", referiu. Estes apoios e outros a instituições de solidariedade social "totalizam cerca de 800 mil euros", número que não inclui os apoios que o Santuário dá à Igreja em Portugal, acrescentou.

Igreja diz que "não falta vontade" para tornar públicas contas de Fátima

Sobre a questão das contas do Santuário, o bispo de Setúbal e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa referiu que "não falta vontade" para divulgar publicamente as contas do Santuário de Fátima.

Segundo D. José Ornelas, que preside à peregrinação, é preciso "criar as condições necessárias para que isso se faça como deve ser", considerando que há um ponto delicado, que tem que ver com a Concordata (tratado que regula as relações entre o Estado e a Santa Sé).

"No Santuário, há uma vertente que vem dos dons voluntários e isso tem um regime específico tutelado na lei portuguesa. Quando o Santuário tem dormidas, tem outras coisas, isso já entra noutra contabilidade. Essa dupla valência exige uma clarificação que no estatuto legal não está devidamente esclarecida", referiu.

Para D. José Ornelas, a Igreja não está "a fazer tempo", antes a tentar esclarecer junto com o Estado uma forma de encontrar "meios adequados para resolver esta questão", salientando que, apesar de não serem públicas, as contas do Santuário são auditadas "pelas melhores empresas de controlo".

O bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, realçou que a dúvida centra-se em tentar perceber "até onde vão os fins religiosos que depois isentam de alguns impostos" o Santuário de Fátima.

"Pensava-se que a comissão paritária entre a Santa Sé e o Estado esclarecesse em breve tempo, num ano, dois anos, três anos. Isso até hoje não aconteceu. Estou desejoso de que aconteça", vincou o cardeal, realçando que não teria "problema nenhum" que as contas se tornassem públicas.

De acordo com D. António Marto, as contas não são apresentadas "porque não é possível ainda determinar exatamente a quantia de impostos que se devem ou não se devem".

"Por mim, não tenho problema. Não há segredo nenhum. Não é sociedade secreta nenhuma", asseverou.

Já em 2017 o reitor do Santuário de Fátima, Pe. Carlos Cabecinhas, afirmava à agência Lusa que a não divulgação das contas da instituição devia-se à existência de interpretações diferentes em relação à Concordata no âmbito tributário.

A divulgação do resumo das contas do Santuário de Fátima aos peregrinos foi iniciativa do bispo emérito da Diocese de Leiria-Fátima, Serafim Ferreira e Silva, e começou no ano 2000, com informação relativa ao ano anterior.

A apresentação foi interrompida em 2006, depois da apresentação dos dados financeiros da instituição aos peregrinos que se encontravam no recinto do santuário a 13 de julho.

(Notícia atualizada às 22:02)

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