“Até hoje sentimos esta simpatia por Saramago, como se fosse um escritor nosso”, disse à agência Lusa Domingos Cardoso, da Santiago Editora.
A propósito do 20.º aniversário do anúncio e entrega do Nobel da Literatura a José Saramago, que se assinala este ano, Domingos Cardoso, ele próprio um leitor de Saramago, disse que os cabo-verdianos, quando se referem à língua portuguesa e aos escritores portugueses, fazem-no como se fossem de Cabo Verde.
“O Nobel foi muito festejado. Existiram muitas manifestações de alegria em Cabo Verde”, disse, recordando que acompanhou com grande interesse o discurso de José Saramago, aquando da cerimónia de entrega do Nobel, em 1998.
Uma das consequências deste prémio, a que Domingos Cardoso assistiu, foi o aumento da procura dos livros do autor, nomeadamente nas feiras de livros.
João Spencer, diretor da Livraria Pedro Cardoso, considera que a atribuição do Nobel da Literatura a Saramago foi “um evento muito comemorado” e que mereceu todo o destaque que teve em Cabo Verde.
“Estamos a falar de um escritor que é dos mais vendidos em Cabo Verde, país onde as pessoas leem pouco, mas ainda assim procuram Saramago”, afirmou.
Apesar de não ter nenhuma atividade prevista para assinalar a efeméride, no discurso que irá realizar hoje, aquando do lançamento do terceiro número da revista “Leitura”, João Spencer pretende destacar a importância deste aniversário, bem como da obra do autor.
Os responsáveis da Rosa de Porcelana Editora, Márcia Souto e Filinto Elísio, consideram que, “para a literatura cabo-verdiana, a escrita de Saramago mantém-se importante e inspiradora”.
“O Prémio Nobel não pode deixar de ser encarado pelos autores cabo-verdianos como uma possibilidade que se tem de trabalhar com 'boa literatura' e muita visibilidade literária e cultural de Cabo Verde, especialmente pelo corredor da internacionalização”, adiantaram.
Sobre a efeméride, recordaram que, no quadro da extensão em Lisboa da segunda edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal, realizou-se um momento de celebração dos 20 anos de atribuição do Prémio Nobel da Literatura a José Saramago, através de uma Leitura Encenada de um trecho de "O Ano da Morte de Ricardo Reis", evento ocorrido na Casa Fernando Pessoa e em parceria com a Fundação José Saramago.
No ano passado, José Saramago foi, a par de Corsino Fortes, o escritor homenageado na primeira edição deste festival.
“Enquanto editores, estamos perfeitamente sintonizados com o assinalar desta data importante para a literatura portuguesa e para todas as literaturas em língua portuguesa”.
Márcia Souto e Filinto Elísio aproveitam para saudar o lançamento, sexta-feira do livro "Diário de José Saramago" e do livro escrito pelo “amigo” Ricardo Viel sobre os momentos de entrega desse Nobel há 20 anos, bem como uma exposição na Biblioteca Nacional de Portugal sobre o Nobel da Literatura.
O presidente da Sociedade Cabo-verdiana de Autores (SOCA), Daniel Spínola, recorda-se perfeitamente do dia do anúncio do Nobel da Literatura para José Saramago.
“Portugal há muito que merecia um Nobel e este foi um feito que deu a possibilidade de Portugal ser mais conhecido no mundo inteiro”, disse à Lusa.
Sobre o autor, de quem se assume leitor, Daniel Spínola destaca a escrita, mas também “o percurso de vida, que incluiu algumas polémicas, mas polémicas boas, que esse também é o papel do escritor”.
Em Cabo Verde, a atribuição do Nobel provocou alguma curiosidade, pois não sendo este um país de leitores, Saramago - que já era conhecido por escritores – passou a ser lido por muito mais pessoas.
“O povo quis saber quem era Saramago”, afirmou, reconhecendo que este é um escritor com “uma escrita muito particular”.
As obras “Ensaio sobre a cegueira” e “Memorial do Convento” são, na opinião de Daniel Spínola, as mais populares de José Saramago em Cabo Verde.
Segundo o presidente da SOCA, são vendidos anualmente cerca de mil livros em Cabo Verde.
O anúncio do Nobel da Literatura para José Saramago aconteceu a 08 de outubro, tendo o galardão sido entregue ao escritor português a 10 de dezembro de 1998.
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