Na apresentação do seu relatório intitulado “O caminho da recuperação: responder à saúde mental infantil em contextos de conflito” em Bilbau, Espanha, esta organização não-governamental (ONG) disse que um dos assuntos “esquecidos” quando se aborda as guerras é a saúde mental das crianças expostas aos conflitos.
A Save the Children evidenciou que desde 2010 o número de crianças que vivem em zonas de conflito aumentou 37%.
Já o número de violações graves dos direitos daqueles que foram vítimas, nomeadamente assassínios e mutilações, recrutamento para integrar forças armadas e violência sexual, aumentou em 174%.
O diretor de Programas Internacionais e Humanitários da Save the Children, David del Campo, salientou que as guerras estão a mudar e são cada vez mais sangrentas, incluindo como estratégia os danos às crianças “de forma planeada”.
A título de exemplo, Del Campo explicou que há intencionalidade na destruição ou desativação de 2.200 escolas na Síria e que “não é por acaso” que no Iémen mais de 400.000 crianças sofrem de desnutrição “grave”, devido a “um bloqueio humanitário para prejudicar a população civil”.
Del Campo afirmou que, nesses contextos, os danos na saúde mental dos menores são “invisíveis”.
O relatório da Save the Children incluiu alguns depoimentos destas crianças expostas em zonas de conflitos.
Em 2017, segundo esta ONG, cerca de 173.800 crianças foram deixadas sozinhas ou separadas das suas famílias devido aos conflitos armados e mais de 8.000 foram sequestradas, recrutadas e usadas nas forças armadas.
O representante da ONG sublinhou que, devido ao “‘stress’ tóxico” que podem sofrer, essas crianças reagem de maneiras diferentes: “crianças de 14 anos – por exemplo – recuam dez anos e começam a urinar, não dormem à noite”, sofrem “pânico, psicose…”.
Perante isso, a Save the Children denunciou que os recursos são insuficientes para atenuar esse problema.
Segundo a sua análise, apenas 0,14% de toda a ajuda oficial ao desenvolvimento entre 2015 e 2017 foi para assistência à saúde mental infantil.
A organização solicitou que a Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) deste mês inclua este assunto na sua agenda, considerando que representa uma oportunidade para os países envolvidos alcançarem um aumento do financiamento para o apoio psicológico a essas crianças.
Esta ONG também pede que promovam a criação de um curso de formação em saúde mental para apoiar essas crianças, perante a escassez de especialistas existentes.
“Agora, na Síria, para seis milhões de crianças menores de 18 anos deslocadas, existem 15 a 20 psiquiatras disponíveis”, referiu Del Campo.
O relatório citado inclui recomendações à comunidade internacional para que continue a trabalhar em favor de que as escolas em zonas de conflito sejam espaços seguros e não alvos militares, que suspenda a venda de armas a países em conflito e que exija responsabilidade aos autores de violações contra crianças.
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