Era ainda o arcebispo Jorge Mario Bergoglio quando, em 2001, criou em Buenos Aires um projecto de inclusão social, hoje em 190 países, incluindo em Portugal. É como Papa Francisco que amanhã de manhã visitará o movimento, em Cascais.
A Argentina vivia uma das maiores crises política, social e económica de sempre, com quase 19 milhões de pessoas, metade da sua população total, a viver abaixo da linha da pobreza, quando Bergoglio lançou a dois educadores um desafio: reunir o máximo de adolescentes possível, para lá da diocese e das organizações católicas.
Assim nasce a "Escola de Vizinhos", a partir de 2013 Scholas Occurrentes, um movimento que promove a educação e a transformação social através do desporto, da arte e do pensamento contemplativo. Hoje, a rede tem 446 mil escolas em cinco continentes e abrange um milhão de jovens.
E é no centro histórico de Cascais, na antiga Escola Conde Ferreira, que a Scholas tem a sua sede em Portugal, inaugurada em março de 2019. Nessa altura os jovens também falaram com o Papa, mas através de uma vídeochamada. Amanhã será muito diferente, poderão encontrar-se cara a cara, olhos nos olhos.
"É uma surpresa grata”, disse o coordenador do programa em Portugal ao jornal "Voz da Verdade". Também ele de nacionalidade argentina, também ele Francisco, como o Papa, Pancho, como é tratado por todos, confessa que "quando percebemos que isto era real foi uma alegria imensa, uma surpresa e uma responsabilidade também”.
Francisco Martín, 31 anos, nunca esteve com o Bergoglio, apesar de ter assistido a uma missa do cardeal, ainda em Buenos Aires. “Só conheci o Papa Francisco a partir da Scholas", conta ao "Voz da Verdade". "Tive a sorte de poder cumprimentá-lo no encontro que fizemos em Roma, em 2016", depois no Peru, em 2018, e novamente em Roma. "É uma pessoa incrível, um líder espiritual e social. É alguém que consegue criar um espaço na cultura para criar algo novo”.
Mural de três quilómetros e meio dá boas-vindas ao Papa em Cascais
Desta vez será ele o anfitrião, em conjunto com dezenas de miúdos. E surpresas não vão faltar, a começar pelo mural que nas últimas semanas tem ocupado dezenas de voluntários, novos e velhos, no Centro Logístico de Cascais, onde a Scholas se instalou temporariamente, e que deverá guiar o Papa ao longo dos últimos quilómetros da marginal, até à sede acabada de renovar.
São três mil e quinhentos metros de painéis ligados entre si, cada um com um tema, mas uma visão comum: a 'Vida entre mundos’, que envolveu uma boa parte da comunidade. A ideia é bater um recorde do mundo, mas melhor do que isso é dar ao Papa uma recordação que nunca esqueça, além da oportunidade da última pincelada.
"O Papa acredita – e nós, que fazemos parte disto, também – que uma educação que não escuta, não educa; uma educação que não cria cultura, não educa; e uma educação que não ensina a celebrar a vida, não educa. Por isso, procuramos escutar, criar e celebrar”, explica Pancho em entrevista.
Apesar de ser uma fundação pontífica, a Scholas Occurrentes não tem como objectivo a formação cristã, mas sim a inclusão social. O trabalho que desenvolve é feito à margem das dioceses e das paróquias, sempre com a ambição de ouvir os jovens e criar uma cultura de encontro, através do diálogo e da entreajuda.
Francisco Martín chegou a Portugal em março do ano passado, para onde veio a convite de José María del Corral, presidente do movimento Scholas, Antes disso, só conhecia o futebol, sobretudo Cristiano Ronaldo e Luís Figo. Agora conhece o fado, a cozinha tradicional e alguns lugares idílicos.
A vinda do Santo Padre é acontecimento importante para a Scholas, que chegou a Portugal em 2018 e em cinco anos trabalhou com 17 escolas locais, mas também para a vila de Cascais e para os seus moradores, que, pela primeira vez, recebem a visita de um Papa.
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