“É um apelo em desespero de causa numa situação de seca, que é uma situação difícil e que se espera que não se prolongue por muito tempo, mas que se tem noção, dadas as alterações climáticas, que se poderá repetir mais frequentemente que no passado e que, por isso, precisa de uma resposta estrutural”, afirmou à Lusa João Cotrim de Figueiredo, em declarações antes de mais uma iniciativa das Rotas Liberais.
O Governo aprovou no sábado novas medidas de combate à seca, que contemplam redução de consumos em empreendimentos turísticos no Algarve e obras em albufeiras em Trás-os-Montes, anunciaram os ministros do Ambiente e da Agricultura.
“Há demasiado tempo, quer ao nível do Plano Nacional de Regadio e nas zonas de regadios que são escassas em Portugal, quer ao nível da discussão dos transvases de água, que em Portugal são possíveis e noutros países não, que não se está a fazer grande coisa”, acrescentou o dirigente, aludindo à gestão que envolve, também, o setor da agricultura.
Segundo Cotrim de Figueiredo, “não estão no PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] as verbas afetas à assunção e infraestruturação para a solução desse problema”, acrescentando que “podem-se fazer muitos apelos, mas na pratica quando é possível fazer algo de concreto o Governo não faz”.
Questionado sobre a proposta da União Europeia aos Estados-membros de redução de 15% no consumo de gás natural, desde a primeira hora contestada pelo Governo português, o líder da IL disse que concorda com o executivo.
“Estamos de acordo que Portugal não deve assumir esse compromisso porque não tem uma alternativa que seja viável”, disse Cotrim de Figueiredo.
“Há, também aqui, aspetos estruturais e conjunturais. A União Europeia é um espaço de solidariedade entre estados membros, portanto, muitas vezes nós beneficiamos dessas solidariedade e se há agora países europeus que vão ter uma perspetiva de um inverno difícil do ponto de vista energético, nós devíamos estar disponíveis para fazer a nossa parte”, prosseguiu.
Contudo, enfatizou, a “parte conjuntural vem dificultar muito esta questão” porque o país vai “ter, dada a seca, uma produção de energia hídrica muito abaixo, mas muito abaixo do que tem sido a média da década”, provocando no próximo inverno um “consumo maior de gás natural num mercado que em termos europeus é relativamente pequeno”.
“Os 15% de redução do gás natural em Portugal significariam pouco, acrescendo o facto de que a nossa origem de consumo nem sequer é primordialmente a Rússia, a percentagem de gás russo que se consome em Portugal é muito pequena”, continuou o dirigente da IL.
Por isso, assinalou, a redução de 15% no consumo seria “um problema grave”, pois ao não haver “capacidade hídrica para substituir o gás”, não existe “a possibilidade de usar o gás todo que o país precisa”, tendo de “voltar a recorrer às centrais a carvão, e uma delas já não pode ser reativada, o que não seria, nem do ponto de vista ambiental nem económico, uma boa solução”.
Cotrim de Figueiredo reuniu-se hoje com empresários da construção civil para conhecer os problemas do setor e de que forma poderão ser ultrapassados os problemas provocados, quer pela pandemia da covid-19, quer da emigração de pessoal especializado.
Comentários