“Aquilo que nós achamos que deve ser uma política de futuro é que se pense noutras fontes de aprovisionamento, sejam elas uma nova barragem, sejam açudes, transvases. Nós não concordamos com a política de gerir apenas aquilo que há”, disse à agência Lusa o presidente do conselho de administração da Cooperativa Agrícola de Citricultores do Algarve (Cacial), José Oliveira.
O também presidente da AlgarOrange (Associação de Operadores de Citrinos do Algarve) falava à Lusa na sequência dos alertas feitos hoje pelo ministro do Ambiente e Ação Climática, Duarte Cordeiro, e das medidas que estão a ser implementadas para mitigar os efeitos da seca.
No final de uma reunião da Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, Duarte Cordeiro disse que Portugal tem 48% do território em situação de seca severa a extrema e indicou que foi intensificada a fiscalização e monitorização do uso dos aquíferos.
Questionado sobre estas medidas, o produtor ressalvou que “são insuficientes” e que se deve “ir mais além”.
“Melhorar a gestão sim, mas a região não deve ficar pela situação de gerir melhor. São precisas mais fontes de aprovisionamento de água”, insistiu.
Descrevendo a situação na região do Algarve, o presidente da Cacial disse que os produtores de citrinos estão “muito preocupados”, uma vez que já existem pomares com “regas de sobrevivência”.
“Estamos muito preocupados porque se não chover substancialmente durante o inverno teremos certamente problemas graves no decorrer do próximo ano. Neste momento já há pomares com regras de sobrevivência, houve cortes nas dotações de água com origem nas barragens para a agricultura”, contou.
José Oliveira referiu que neste momento as produções mais afetadas são aquelas que utilizam água das barragens, mas que também já se verificam problemas nos pomares regados por captações subterrâneas.
“As tiragens e os furos também começam a descer muito de nível. Antevemos muitos problemas se não chover substancialmente para que se possa repor uma boa quantidade de água nas barragens e também nos lençóis freáticos”, insistiu.
Em situação mais crítica encontram-se os pomares que utilizam as águas das barragens de Bravura (Lagos) e de Silves, no barlavento algarvio, mas José Oliveira alerta para a possibilidade de o problema de seca vir a afetar em igual medida toda a região.
Segundo o responsável, houve este ano uma quebra na produção de 50% na variedade de verão.
O ministro do Ambiente adiantou hoje que o volume de água nas barragens do Algarve é 30% inferior ao verificado no ano passado, nesta época.
Duarte Cordeiro disse que medidas de mitigação dos efeitos da seca resultaram numa redução de 14% no consumo de água para uso agrícola no sotavento algarvio.
O governante adiantou que será fiscalizado um novo aquífero no Algarve (Querença – Silves), com monitorização de todas as captações, nomeadamente a fiscalização de uso indevido de furos.
Está igualmente prevista a redução do consumo no aquífero do Sado e a suspensão de todos os títulos atribuídos este ano.
Para a barragem de Odelouca, no barlavento algarvio, serão mobilizados cinco milhões de euros do Fundo Ambiental, já que a capacidade atual “não corresponde aquilo que é o volume disponível”, explicou.
O investimento deverá concretizado no prazo de um ano, para reforçar a capacidade da infraestrutura em 25 hectómetros cúbicos.
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