Insistira em várias ocasiões, nos últimos meses, que não queria ocupar o cargo por mais sete anos e, inclusive, no seu discurso de Ano Novo, despediu-se dos italianos para dar lugar, a partir de fevereiro, a uma nova figura que desempenhasse as funções de chefe de Estado e poder, assim, dedicar-se exclusivamente à família.
De facto, Mattarella tinha afirmado que uma reeleição para um segundo mandato, como aconteceu com Giorgio Napolitano em 2013, devia ser uma exceção e não tornar-se a norma, mas os partidos não conseguiram chegar a um consenso em torno de outro candidato e apostaram de novo no jurista siciliano para sair do impasse que estava também a travar a atividade do Governo de coligação liderado por Mario Draghi.
Sergio Mattarella será o segundo Presidente italiano a renovar o mandato, depois de Napolitano, que também não queria mas foi reeleito em 2013, também pela ineficiência do diálogo político, embora em 2015 tenha assinado a sua demissão e sido substituído por Mattarella.
Nascido em Palermo a 23 de julho de 1941 e pai de três filhos, foi juiz do Tribunal Constitucional e várias vezes ministro, antes de ser a autoridade máxima do Estado italiano.
Como Presidente da República, manteve sempre um perfil discreto, mas tal não o impediu de utilizar as poderosas prerrogativas do cargo sempre que necessário, como quando impediu, em 2018, que o primeiro Governo de Giuseppe Conte, formado pela Liga, de extrema-direita, e pelo Movimento 5 Estrelas (M5S), nomeasse como ministro da Economia o eurocético Paolo Savona.
Licenciado em Direito em 1964 pela Universidade La Sapienza, de Roma, com nota máxima e distinção, ensinou Direito Parlamentar na Faculdade de Direito da Universidade de Palermo até 1983, ano em que iniciou uma licença sem vencimento por ter entrado para a Câmara de Deputados (câmara baixa do parlamento).
Três anos antes, em 1980, a máfia Cosa Nostra tinha assassinado o seu irmão, Piersanti Mattarella, quando este era presidente da região da Sicília pelo partido Democrata-Cristão (DC).
Em 1983, Mattarella foi eleito deputado pelo DC e manteve-se na Câmara de Deputados até 2008.
Nessas sete legislaturas, foi membro da Comissão de Assuntos Constitucionais, da Comissão de Negócios Estrangeiros e da Comissão de Legislação, à qual também presidiu.
Entre 1987 e 1989, foi ministro dos Assuntos Parlamentares e, entre 1989 e 1990, ministro da Educação, mas nesse ano demitiu-se do Governo de Giulio Andreotti, em discordância com a aprovação da lei Mammì, que reorganizava os canais televisivos e outorgava três deles à Mediaset, gigante audiovisual da família Berlusconi.
Já em outubro de 1998, foi eleito vice-presidente do Conselho de Ministros até dezembro de 1999, altura em que foi nomeado ministro da Defesa, cargo que ocupou até às eleições de junho de 2001.
Nesses anos, foi aprovada a lei que aboliu o serviço militar obrigatório e a que tornou os Carabineiros uma força armada autónoma, mas, além disso, Itália desempenhou um papel muito ativo nas missões de manutenção da paz destacadas para iniciativas das Nações Unidas em locais como a Bósnia-Herzegovina, o Kosovo e na ex-república jugoslava da Macedónia.
Também foi impulsionador do antigo sistema eleitoral conhecido como “Mattarellum”, com o qual se realizaram eleições entre 1994 e 2001.
Em 2008, deixou a vida política, um ano depois foi eleito pelo parlamento como membro do Conselho Presidencial de Justiça Administrativa e, em 2011, foi nomeado juiz do Tribunal Constitucional.
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