Por: Helena Neves, da Agência Lusa
Os desafios colocados por uma doença até então desconhecida, que exigia respostas rápidas e eficazes dos serviços de saúde, foram recordados em entrevista à agência Lusa pelo presidente dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS), Luís Goes Pinheiro, que assumiu funções três dias depois de ter sido detetado o primeiro caso de covid-19 em Portugal, em 2 de março de 2020.
“Desde aí, até agora, a minha realidade tem sido a da pandemia e de exercer funções num serviço que, como todos sabemos, tem tido um papel muito, muito relevante no contexto do combate à pandemia e de tudo o que tem sido feito a esse propósito. E foi desafiante”, afirmou o presidente da entidade responsável pelas compras e logística, serviços financeiros, recursos humanos, tecnologias de informação do Serviço Nacional de Saúde e pelo SNS24.
Luís Goes Pinheiro já desempenhou vários cargos públicos, entre os quais o de secretário de Estado Adjunto e da Modernização Administrativa, mas considerou que este foi o “maior desafio” que enfrentou na sua vida profissional “pelo contexto, pela matéria e pela exigência”, mas também é aquele que o tem “realizado mais”.
“É a oportunidade de poder servir o nosso país nos momentos em que ele mais precisa. É um privilégio”, comentou.
Questionado sobre como se consegue responder aos desafios colocados diariamente, afirmou que “cada problema com as suas soluções”, dando como exemplo a Linha SNS24 (808242424), que exigiu novas respostas.
“A linha que existe hoje não é a mesma linha que existia antes da pandemia, tem uma capacidade incomparavelmente superior, porque até do ponto de vista tecnológico os recursos da linha foram esgotados e foi preciso repensar o seu modelo tecnológico, repensar a forma de prestar serviços” e aumentar o número de recursos humanos.
Antes da pandemia, a linha tinha cerca de mil profissionais e, no pico de procura, chegou a ter quase 6.000. Hoje, rondam os 4.500, mas há um grupo que pode ser chamado em caso de necessidade.
Para Luís Goes Pinheiro, a “intensidade muito incerta” da procura da linha é o mais difícil de gerir: “De um momento para o outro, fruto das exigências da pandemia e da necessidade de disponibilizar novos serviços para os utentes, o serviço pode passar de 10 mil chamadas por dia, para 20, 30, 40 ou até 50 mil, como aconteceu em janeiro deste ano”.
Mas foram vários os contextos em que se criaram soluções que permitiram também aos utentes dar o seu contributo, como o serviço de auto reporte, em que 1,5 milhões de utentes registaram os seus sintomas.
No fundo, foi tirar partido das ferramentas que já existiam no terreno, e eram “muitas”, e, a partir daí, “foi colar estas peças garantindo que as novas funcionalidades se integravam num ecossistema que já era muito sofisticado e muito robusto”, disse, observando que “Portugal compara positivamente do ponto de vista da sua sofisticação e dos seus sistemas de informação com os países que se encontram mais bem posicionados no mundo”.
Deu como exemplo, o “Sistema Vacinas” que foi adaptado e reforçado tecnologicamente, tendo permitido registar as mais de 15 milhões de doses de vacinas administradas, destacando também outras ferramentas que foram disponibilizadas, como o autoagendamento, que serviu mais de 3,6 milhões de pessoas, e o sistema de gestão dos SMS que permitiu, por exemplo, enviar 10,5 milhões de mensagens a sugerir uma data de vacinação ao utente.
Apesar de reconhecer que “nada é perfeito”, Luis Goes Pinheiro faz um balanço positivo do trabalho realizado.
“Os únicos sistemas sem falhas são aqueles que existem na imaginação das pessoas, os que funcionam no dia a dia, na prática, têm sempre falhas. O que é importante, é ser rápido a identificar os problemas, a assumi-los e a resolvê-los e depois medir os resultados (…) e eu acho que os resultados são, ditos por todos, positivos”, salientou.
O que se pretendeu “não foi criar sistemas de informação inovadores ou que funcionassem de forma absolutamente extraordinária”, mas sim “vacinar os portugueses”, o que aconteceu com o processo conduzido pela ‘task force’ e que colocou Portugal nos “lugares cimeiros em taxa de vacinação”, também graças aos “portugueses que deram um sinal de maturidade cívica, enquanto povo, absolutamente inquestionável”.
Luís Goes Pinheiro disse sentir-se “muito orgulhoso” do contributo dado pelos Serviços Partilhados neste processo, afirmando que se reconhecem nas palavras ditas pelo vice-almirante Gouveia e Melo de que os sistemas de informação e os SPMS são “uma espécie de sistema nervoso central do processo de vacinação”.
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