Faltavam quase cinco quilómetros para Belém. Na Avenida 24 de Julho, em plena hora de almoço, um grupo de peregrinos portugueses aproveitou a sombra das arcadas de um prédio para uma pequena pausa.

Pouco depois, alguém espreitava por uma porta de vidro. “Se quiserem podem entrar, ir à casa de banho e encher as garrafas com água fresca”. Uma notícia que foi recebida por todos com alegria.

Refrescados, seria tempo de voltarem ao caminho. De olhos no relógio, e no Google Maps, uma decisão foi tomada: “almoçamos mesmo aqui” e depressa o chão se tornou espaço de piquenique.

Mas a porta de vidro voltou a abrir: “a nossa dirigente diz que podem entrar e almoçar no auditório”. Uma segunda notícia que foi recebida ainda com mais entusiasmo do que a primeira.

A porta que por duas vezes se abriu era a do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). E quem a abriu foi Maria José Marcos, administrativa, que trabalha essencialmente na área do atendimento aos sócios.

“Fico emocionada e quis ajudar de alguma maneira, e esta foi a forma possível para apoiar os jovens, com autorização dos chefes”, começou por dizer ao SAPO24.

Questionada sobre se já tinham prestado apoio aos peregrinos da Jornada Mundial da Juventude, confidenciou que não. “Temos visto muitos jovens passar aqui, mas os portugueses estão-nos no coração”, conta com um sorriso.

“Acho que fazíamos isto se víssemos outros a comerem aqui no chão e a pedirem água, mas os nossos são os nossos e acho que fiz isso com muito mais prazer”, completa.

“Tem passado aqui muita gente de vários países. Do Chile, Argentina, Canadá, Brasil”, enumera depois Maria José Birrento, dirigente do SEP.

“Independentemente do credo de cada um, ficamos contentes por poder ajudar na perspetiva humana”, diz ao SAPO24.

Do ponto de vista da profissão, refere que a JMJ “é exigente, no sentido de corresponder às necessidades individuais e de grupo dos peregrinos que naturalmente necessidades em saúde, nomeadamente até pelas questões do calor, que precipita alguns problemas”.

Apesar disso, vê a JMJ como “uma oportunidade ímpar de os jovens conviverem, de conhecerem novas pessoas”. “Estamos muito contentes, apesar dos constrangimentos para a cidade. São muito bem-vindos e aqui também”, reforça.

Como agradecimento pelo acolhimento, os jovens cantaram e tocaram o hino oficial da Jornada Mundial da Juventude.

Quem abriu a porta ficou ainda mais emocionado. “Achei fantástico, são espetaculares. Fiquei com fé de que a juventude ainda pode ser salva”, frisou.

“A juventude anda um bocadinho desinteressada da vida, com caminhos às vezes muito errados. Mas há sempre uma fé, e é essa fé que a gente deposita nos jovens de hoje”, acrescenta.

Além disso, vê a JMJ como “uma boa lição moral para os adultos”. E explica: “os jovens afinal ainda têm uma boa formação e espiritualidade. E acho que isso leva muito longe, a fé move montanhas”.