Segundo os resultados de um inquérito divulgado hoje pela Portugal AVC – União de Sobreviventes, Familiares e Amigos, 91% dos doentes com indicação para cuidados de reabilitação entre os dias 20 e 27 de abril afirmaram ter sido obrigados a interromper os tratamentos ou não ter tido possibilidade de os iniciar.
A maioria (66%) dos 868 doentes inquiridos entre 20 e 27 de abril denunciou também o adiamento das consultas sem possibilidade de as ter remotamente, através de teleconsulta, uma alternativa utilizada por apenas 19% dos inquiridos, e apenas 15% pôde manter as consultas de seguimento de forma habitual.
Além das consultas, também os exames de 48% dos sobreviventes foram adiados ou cancelados durante este período.
Face a estes dados, a Portugal AVC alerta que a interrupção dos cuidados de reabilitação prestados às pessoas afetadas por AVC pode ter consequências graves na recuperação dos doentes e levar a um agravamento do seu estado de saúde.
“Existe múltipla evidência científica que o atraso do programa de reabilitação individualizado e multidisciplinar leva a um agravamento do prognóstico funcional, conduzindo a uma pior integração e menor qualidade de vida, como o que se verificou durante este período”, escreve a associação em comunicado.
Os resultados do inquérito apontam nesse sentido, revelando que cerca de um terço dos inquiridos admite sentir-se pior ou muito pior, em comparação com o seu estado geral de saúde.
No caso dos pacientes que habitualmente beneficiavam de cuidados de reabilitação, são 44% aqueles que referem este agravamento e 50% entre os que sofreram AVC há menos de um ano.
Por outro lado, a maioria dos inquiridos (58%) referiu sentir-se mais nervosa e ansiosa nesta fase, expressando preocupação com um possível agravamento da dificuldade na movimentação e comunicação do que antes deste período e até com o risco de ter um novo AVC.
“Na fase atual, em que se desenham as estratégias para retorno ao funcionamento prévio de serviços de saúde, é imperativo o investimento na expansão, readaptação e reorganização dos cuidados de reabilitação do AVC em Portugal, tanto a nível hospitalar bem como extra-hospitalar”, defende a associação.
Neste sentido, a Portugal AVC apela a um trabalho coordenado entre as diversas entidades envolvidas nos cuidados de reabilitação, defendendo que a questão seja considerada como prioritária, de forma a evitar “as graves consequências secundárias ao tratamento inadequado do AVC”, um problema que consideram não poder ser marginalizado em favor da covid-19.
A covid-19 é a doença transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Portugal contabiliza 1.063 mortos associados à covid-19 em 25.524 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
Das pessoas infetadas, 813 estão hospitalizadas, das quais 143 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados passou de 1.689 para 1.712.
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