“Quando ganhámos as Taças [da Liga e de Portugal na época 2018/2019] eu não estava feliz”, disse o avançado holandês, ouvido via Skype durante a 29.ª sessão da invasão à academia do Sporting, em Alcochete, ocorrido em 15 de maio de 2018.
O avançado, que alinha nos alemães do Eintracht Frankfurt, disse ter recebido ajuda psicológica depois do ataque: “Foi horrível, não sabia qual era o meu futuro. Logo a seguir ao ataque, fui a um psicólogo, em Lisboa, e ele sugeriu que seria bom para mim sair do país. A minha mulher estava grávida e ela queria dar à luz em Lisboa, decidi ir três semanas para a Áustria, sozinho como meu agente”.
Num depoimento, a que o seu agente, Gunther Neuhaus, assistiu na sala do tribunal de Monsanto, o avançado holandês revelou ter falado com o então presidente Bruno de Carvalho após o ataque.
“Eu disse-lhe, em inglês: ‘Como é que isto é possível?’. E ele respondeu: ‘Sim, como é que isto é possível? Eu não sei como é que isto aconteceu’. E eu gritei novamente: ‘Como é que é possível?’”, explicou.
Bas Dost, que deixou o Sporting no final de agosto de 2019, foi agredido no corredor que dá acesso ao balneário, onde acabou por ficar sozinho, depois de o secretário técnico Vasco Fernandes ter mandado os jogadores entrarem, por ter avistado “muita gente a correr”.
“O Vasco Fernandes mandou-nos para o balneário, mas eu pensei ir falar com eles. Sou holandês, lá é possível resolver os problemas a falar, eu senti que tinha a responsabilidade de falar por ser um dos mais antigos do plantel”, explicou.
No corredor, o jogador dos Países Baixos viu a porta abrir-se e entrar um “homem muito grande com máscara”, que lhe fez “um sinal com o polegar para cima”, o que o fez pensar “que estava tudo bem”.
“Depois entraram mais, e o sexto deu-me com um objeto, que não sei o que era, na cabeça, nesse momento caí imediatamente para o chão e a mesma pessoa que me agrediu começou a dar-me pontapés e disse a outro que também devia dar-me pontapés”, relatou.
Bas Dost disse ao coletivo de juízes que “tinha muito sangue na cabeça” e que foi João Rolin, o secretário técnico adjunto que o ajudou.
“Ele levou-me para um sítio diferente e disse-me: ‘Tenho de voltar para lá, eles precisam, de mim’. Lembro-me de lhe ter dito: ‘Por favor não me deixes aqui estou com imenso medo’”, contou.
O futebolista referiu que depois foi “para outra sala onde estavam Carlos Mota [enfermeiro] e outro médico”, que o trataram, garantindo que não sabe quem tirou as fotos que mostram a cabeça a ser suturada, que foram divulgadas quase de imediato.
“Estava em choque, com medo e com dores, não me recordo [quem tirou as fotografias]”, afirmou o jogador, detalhando que, em relação aos agressores, a única coisa de que se lembra é que “estavam todos vestidos de preto” e que o primeiro a entrar “era muito grande” e o que lhe bateu “era mais pequeno”.
O julgamento prossegue na sexta-feira com a audição, entre outras testemunhas, de José Sousa Cintra que liderou o clube entre 1989 e 1995 e ocupou a presidência da SAD durante dois meses, por nomeação, após a saída de Bruno de Carvalho.
O processo, que está a ser julgado no tribunal de Monsanto, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
Bruno de Carvalho, à data presidente do clube, ‘Mustafá’, líder da Juventude Leonina, e Bruno Jacinto, ex-oficial de ligação aos adeptos do Sporting, estão acusados de autoria moral de todos os crimes.
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