“Não acreditamos que a independência da Catalunha vá ocorrer, apesar das declarações do Governo da Catalunha na terça-feira passada, que implicavam uma declaração unilateral de independência, que foi suspensa imediatamente a seguir”, escrevem os analistas do crédito soberano da S&P num comentário sobre este acontecimento.
Sobre a dúbia declaração do presidente da região autónoma da Catalunha, a S&P salienta que “em qualquer caso, a independência é definida não apenas pela maneira como um território se vê a si próprio, mas também pela maneira como é visto pelos outros” e aponta que “uma Catalunha soberana não seria reconhecida por um número significativo de governos nacionais, e certamente não pelos Estados-membros da União Europeia”.
Sobre a avaliação da qualidade do crédito soberano da região e do país, a S&P afirma: “Apesar de a recente escalada de tensões entre o Governo e a região poder levar a um impasse constitucional, não esperamos que a situação vá, por si própria, levar a uma descida dos ‘ratings’, com a exceção da Catalunha, cuja notação de B+ foi colocada em revisão negativa a 4 de outubro”.
Sobre Espanha, a agência de notação financeira diz que “a Perspetiva de Evolução [‘Outlook’] continua positiva, refletindo a expectativa de que os fundamentos da economia de Espanha continuem a fortalecer-se”.
O Fundo Monetário Internacional prevê um crescimento de 3,1% para este ano, praticamente em linha com os 3,2% que a Espanha cresceu no ano passado, mas deverá abrandar para 2% até final da década.
O perigo, do ponto de vista dos credores e investidores, é que “um período mais extenso de tensões políticas exacerbadas pode deprimir a confiança dos empresários e consumidores, causando um forte abrandamento na Catalunha e, potencialmente, perturbando os negócios em Espanha”.
O processo independentista da Catalunha entrou num novo momento crítico na sequência da realização, a 01 de outubro, de um referendo pela soberania na região, considerado ilegal pela justiça espanhola. Na consulta – organizada pelo governo regional e dirigido apenas aos catalães, o que contraria a Constituição – o “sim” ganhou com 90% dos votos, mas os resultados não foram certificados por entidades independentes.
A votação ficou marcada por cargas policiais da Guardia Civil e da Polícia Nacional espanhola, que visavam impedir o referendo, uma vez que a grande maioria dos agentes da polícia regional catalã, os Mossos d’Esquadra, não cumpriu uma ordem nesse sentido do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha.
Foram apresentadas várias queixas contra os Mossos d’Esquadra, considerando que a polícia regional agiu como “polícia política” a mando da Generalitat (governo regional), que defendia não só a realização do referendo ilegal como a resposta “sim” no mesmo.
Na sequência da votação, o presidente do governo regional fez uma declaração no parlamento local, que muitos entenderam como uma declaração de independência suspensa logo de seguida, à espera de negociações com Madrid.
O Governo espanhol respondeu pedindo esclarecimentos sobre se realmente foi declarada a independência, e estendeu o prazo até quinta-feira para Charles Puigdemont esclarecer se declarou ou não a independência da região.
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