Neste bairro que conta com centenas de cabo-verdianos, o crioulo é a língua “oficial” e as batucadeiras há muito que se reúnem para cantar a vida e as dificuldades, que são muitas.
Hoje, algumas destas mulheres que tocam, cantam e dançam no grupo cultural Finka Pé usaram o seu panu di terra (tecido típico cabo-verdiano) para receber José Maria Neves, que cumpre o último dia da visita a Portugal, iniciada quinta-feira, a primeira na qualidade de chefe do Estado de Cabo Verde.
E aproveitaram o ritmo e a força com que fazem vibrar os tambores de pano e pele para pedir ao seu Presidente que não se esqueça desta diáspora em Portugal.
José Maria Neves entrou na Associação Moinho da Juventude ao som do grupo Kola San Jon e tinha à sua espera muitos abraços e pastéis de milho, tradicionais de Cabo Verde, que não faltam na cozinha daquele moinho.
Ao lado da mulher e de elementos da delegação, Neves deixou-se embalar na música, tirou fotografias e colocou a bandeira de Cabo Verde aos ombros.
No final da visita, e antes de partir para mais uma etapa desta deslocação, que tem tido uma agenda cheia, o chefe de Estado falou aos jornalistas, afirmando que cada vez que vem a Portugal encontra uma comunidade “muito mais empoderada, mais integrada”.
“Isso vê-se pelo vigor espiritual, pela dinâmica cultural, pela forma como vivem e sentem Cabo Verde e Portugal”, disse.
E acrescentou: “A nossa comunidade está a ganhar muito mais poder e melhores condições de exercer aqui a sua cidadania e participar mais ativamente no processo global de desenvolvimento de Cabo Verde”.
Sobre as relações entre Cabo Verde e Portugal, alertou para os “novos atores”, como “empresas, universidades, fundações, organizações não-governamentais, escolas de formação profissional, municípios”.
“Percebi que há um enorme potencial que deve ser explorado e posto ao serviço do reforço das relações entre Cabo Verde e Portugal”, referiu.
Questionado sobre quais as áreas a inovar, indicou os oceanos e como Cabo Verde pode e deve “explorar de forma sustentada os recursos marinhos”, mas também ao nível das energias renováveis e da transição digital.
“Há uma juventude cheia de talento, capacidade, lá e cá e podemos por tudo isto ao serviço do desenvolvimento”, prosseguiu.
José Maria Neves deixou o Moinho da Juventude, prosseguindo os contactos com a comunidade, que terminará hoje com um encontro na Câmara Municipal da Amadora.
No interior da associação, Maria do Rosário, conhecida como Mariazinha, uma das batucadeiras que tocou para o chefe de Estado, disse já estar habituada a estas visitas.
Natural da ilha de Santiago, Mariazinha, 72 anos, vive em Portugal há 30, mas não esquece Cabo Verde.
“Se eu pudesse, ia lá todos os anos”, disse, classificando de “sensacional” a sua terra, para onde gostaria de voltar um dia.
Eunice, a quem todos tratam por “Niche Moinho”, afirmou que esta comunidade é muito ligada a Cabo Verde e daí as tradições que não deixa morrer, como o o Kola San Jon e o batuque.
“A gente não deixa morrer a nossa tradição. Estamos longe da nossa terra, mas as tradições mantêm-se vivas”, disse.
Durante o batuque, contou, as mulheres improvisam mensagens a quem as ouve e a José Maria Neves deixaram um apelo: “Para ele não se esquecer que nós todos somos de Cabo Verde”.
À ilha de São Vicente, de onde é natural, gostava um dia de voltar. “Gostava de voltar. A gente quer sempre voltar, o problema é voltar”.
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